domingo, 30 de dezembro de 2007

Cenas de um Natal pós-moderno


Bem, nós já sabíamos que no dia 25 à noite teríamos que embarcar a oura para Portugal. Ela foi convidada a participar do concorridíssimo Reveillon dos Abreu, tradicional família da Invicta cidade do Porto. O máximo!

Esses são os dois irmãos da minha filha. O menor é Lucas, filho de Nelson. O maior dispensa apresentações. Este fez questão de passar o natal com a irmã (que ia viajar logo mais). Esta fez questão de passar com o pai, que fez questão de passar com a madrinha da filha, na residência dos Gouvêa, onde todos tiveram a honra de conviver com o historiador, escritor, jornalista e intelectual Fernando da Cruz Gouvêa, pai da anfitriã. Conversar com Sr. Fernando é priviégio de poucos.

Fernanda, Maria, e Nelson. Lucas e Edgard.

Enquanto isso, bem pertinho dali, nós, eu e minha cara-metade, participávamos da espetacular ceia dos Osbourne. Aqui, eu e meu guru espiritual zen budista tibetano Ricardo Osbourne.

Isso foi de tarde. Deu vontade de ir comer churrasquinho do melhor, no quiosque do Baiano, em frente ao tradicional edifício Jacarandá.

O jeito foi reunião no almoço do dia 24/12. A família reunida quase que morre de tanto rir com o DVD de Zé Lesim, presente de nosso queridíssimo amigo Paulo Romero.
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"O casamento feliz é a união de dois bons perdoadores". Cida.






sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

www.dominiopublico.gov.br

Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos!
Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:
  • ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci
  • escutar músicas em MP3 de alta qualidade
  • ler obras de Machado de Assis ou a Divina Comédia
  • ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA ...
  • ter acesso ao acervo de teses e dissertações da CAPES


http://www.dominiopublico.gov.br/


Só de literatura portuguesa são 732 obras! Praticamente toda a obra de Fernando Pessoa, Shakespeare em português, Machado de Assis....
Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acessos é muito pequeno.
Trata-se de cultura da melhor qualidade e grátis!! É disso que o Brasil precisa!
em um país onde o livro ainda é muito caro e de difícil acesso para 70 % da população!!
Não devemos esquecer que o site do Domínio Público também abriga o acervo de Teses e Dissertações da CAPES. Todo o material do site fica inteiramente à sua disposição.
Enfim, vale a pena a gente se engajar numa campanha destas. Já passei pra toda a minha lista de email!
Vamos tentar reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura. Divulgue para o máximo de pessoas, por favor, BEIJOS

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Estante Virtual - Sebo Virtual!


Sempre gostei de procurar livros nos sebos do centro da cidade.

Mas aí, um dia o livro era difícil demais e eu parti para a internet. Eu nunca tinha procurado um livro na net. Isso foi em 2003. Achei num sebo de Salvador chamado "Graúna Bons Livros Usados". Nossos contatos foram através de email tipo "você tem o livro tal? Quanto custa?"
até a chegada do tijolão em minha casa através do correio. Adorei.
Tempos depois descobri a Estante Virtual.

Uma idéia super-desenvolvida desse sistema que acabo de descrever.

"reune virtualmente os acervos de 734 sebos e livreiros, de 150 cidades, a Estante Virtual é a sua chance de encontrar sempre o livro que você procura. E por um preço que você pode pagar! Chega de bater pernas atrás de livros que você nunca acha, chega de levar para casa um livro que não era exatamente aquele que você queria. E não é só! Todos os leitores cadastrados têm à disposição sua própria estante virtual, para vender livros do seu acervo pessoal para uma comunidade com milhares de leitores de todo o Brasil e de diversos outros países."

Sou cadastrada, recebo por email news letter com novidades e já comprei vários e vários livros, e sempre por mais da metade do preço das livrarias. Os livreiros nos atendem com a maior atenção informando se o livro encontra-se em bom estadoetc. Experimente! faça uma visita, pesquise livros! Não custa nadinha:


Tem também o blog da Estante Virtual, de onde eu tirei esses 10 mandamentos a seguir. Que na verdade são 30 mandamentos (se você quiser conhecer os 30 mandamentos na íntegra, vale a pena, clique em http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/decalogo_do_leitor.html

O escritor Alberto Mussa elaborou os trinta mandamentos para ser leitor, escritor e crítico, que foram publicados na revista Entre Livros. Leia abaixo a versão resumida de dez deles. Para ler a íntegra (vale a pena!), link acima.
I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química.
II - Comece a ler desde cedo, se puder. E pelos clássicos, pelos consensuais.
III - Nunca leia sem dicionário.
IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros.
( o quinto mandamento é o meu preferido. Vou expô-lo na íntegra:)
V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.
V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo.
VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira.
VII - Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável.
VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores.
IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes.
X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente.
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Se você é leitor compulsivo como eu, não pode viver sem livros, livros são seu maior prazer:
Não deixe de visitar o site da Estante Virtual, você vai amar, você vai se deliciar!

sábado, 22 de dezembro de 2007

Família de Cinéfilos

Alguém tem que tirar a foto né? Zero de pipoca em 30 segundos.

Pela fisionomia da platéia parece até que o filme é ruim, mas né não. Hoje no cinema aqui de casa esteve em cartaz "Não Por Acaso" do novo cineasta (em longa ele é novo, esse é seu primeiro) Philippe Barcinski. Duas histórias que se alternam com um ponto em comum: um acidente em que morrem duas mulheres. Uma delas é a ex-mulher de Ênio (Leonardo Medeiros), um engenheiro de trânsito que controla o fluxo de carros em São Paulo. A outra é a namorada de Pedro (Rodrigo Santoro), marceneiro que constrói mesas de sinuca. Os dois sofrem com o luto e depois.... bem não vou contar tudo. Mas o longa é principalmente sobre esse embate entre a vontade e o acaso na determinação de um destino. Rodrigo Santoro, como sempre o máximo.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Deus existe?

Quando eu tinha 28 anos, li Toten e Tabu de Freud, onde ele comprova a inexistência de Deus. Eu que era devota de São Judas Tadeu, tornei-me atéia por uns tempos. Depois voltei a procurar a minha "igreja" sem, no entanto, nunca encontrá-la. Todas me pareciam um comércio como outro qualquer.

Hoje venho me identificando com o agnosticismo, que me parece uma doutrina filosófica mais razoável. Exatamente ela se torna plausível, na medida em que afirma a impossibilidade, veja bem, ela percebe como impossível a compreensão de questões como Deus, a origem e destino dos seres, a origem e destino do universo, porque essas questões, elas não têm a possibilidade de comprovação científica.

Eis o motivo pelo qual Albert Einstein foi sempre tão questionado sobre ciência e Religião. Há frases falsamente atríbuídas à ele como uma espécie de prova, tipo "se Albert Einstein diz que Deus existe então"....e assim o pobre gênio era admoestado exatamente com esse tipo de questão. Qualquer entrevista boba e lá estava a pergunta "Você acredita em Deus?".

Pois não é que Einstein, pelo menos neste quesito, (já que sempre fui péssima em física) teve uma trajetória mística igual à minha! Por vezes tinha certeza e afirmava a inexistência de Deus, para mais adiante, em outra fase ou em outra entrevista (ou para uma outra platéia, quem sabe) afirmar que sem deus nada aconteceria!

Ora, se até Santo Agostinho e Madre Tereza de Calcutá tinham dúvidas sobre a existência de Deus, porque não eu e meu amigo Einstein?

Dizia o gênio:

"O comportamento ético do homem deve ser baseado na simpatia, educação, laços sociais e necessidades; nenhuma base religiosa se faz necessária. O homem estaria com efeito, a viver uma existência desgraçada se estivesse sendo restringido, por medo de punição e ou esperança de recompensa depois da morte." [Albert Einstein, "Religion and Science", New York Times Magazine, 9 November 1930]
"A ciência só pode verdadeiramente ser criada por aqueles que estão imbuídos da aspiração direcionada para a verdade e entendimento. A fonte desse sentimento, no entanto, surge da esfera da religião... A situação pode ser expressa por uma imagem: Ciencia sem religião é patético, religião sem ciência é cegueira." [Science, Philosophy and Religion: a Symposium, 1941.]

"Não posso imaginar um Deus que recompensa e pune os objetos de sua criação, cujos intuitos são modelados para nosso próprio benefício....Um Deus, em suma, que nada mais é do que o reflexo da fragilidade humana. Também não posso acreditar que um individuo possa sobreviver à morte de seu corpo, embora almas tolas aportem tais pensamento por conta do medo ou egoísmo ridículo. [Albert Einstein, obituary in New York Times, 19 April 1955]
"Estou satisfeito com os mistérios da eternidade da vida e com a consciência da brevidade da maravilhosa estrutura do mundo existencial, juntamente com o devotado esforço para compreender um pouco dele, seja ela tão pequena, a razão que a manifeste na natureza."

Para Sigmund Freud deus era uma criação da humanidade. Desde as mais primitivas tribos, o homem inventa seus totens com medo do desconhecido: chuva, trovão e morte. Com a evolução, o ser humano foi apefeiçoando seus deuses, (antes zoomórficos, depois antropomórficos) sem os quais não conseguiria explicar nada, além de precisar de mais proteção, boas colheitas e por aí vai. É meio chocante pra você que, como eu, foi educado em colégio de padre ou freira, mas faz muito sentido. E ainda tem essa culpa judaico-cristã pesando em nossos ombros, já que tudo é pecado e Jesus morreu na cruz para nos salvar desses nossos pecados... Difícil ser feliz quando alegria é pecado, amor é pecado, sexo é pecado, dormir até meio dia é pecado.... Separar do marido é pecado. Frei Damião diria que eu vou pro inferno de cabeça pra baixo!

fonte para as frases de Einstein: http://www.if.ufrgs.br/einstein/frases.html


Quem assistiu Stigmata? (Rupert Wainwright). Muito legal esse filme e dele guardei pra sempre uma frase. A história é a de uns manuscritos que colocavam em risco a existência da Igreja. Eram ensinamentos de Jesus onde dizia: que o verdadeiro templo de Deus não é feito de pedras e nem madeira...o verdadeiro templo de Deus está dentro de cada pessoa. Com essa afirmação, Jesus queria dizer que não há necessidade da existência de um templo ou Igreja (que no caso da católica construiu mundo afora verdadeiros castelos de luxo e riqueza)....se quiser procurar Deus, basta que você olhe para dentro de si. Estas palavras são perigosas, tanto para a Igreja Católica como para a igreja Evangélica.

Bem, quem sabe qualquer dia desses "eu seja tocada", encontre a minha igreja, o meu Deus com D maiúsculo, chego aqui contando pra vocês? O homem é dono do sim e do não. Eu posso dizer sim hoje àquilo que eu disse não ontem e vice-versa. Beijos em todos os meus 4 leitores.

Pequenas notas autobiográficas




Angélica é uma menina, uma garota ainda. Ela é muito sensível, chora por bobagens, pois desde cedo sofre na vida. A vida nunca foi lá muito fácil para Angélica, que demorou um longo tempo para entender o significado da palavra normal. O sonho dela era ter uma rotina, saber como seria o dia de amanhã.

Edgard, o Eugênio, é um menino, um garoto ainda. Ele é muito sensível, chora mas chora escondido. Um dia eu o vi chorar. Mas quase ninguém nunca viu. Cedo, muito cedo na vida ele teve um sofrimento, depois outro e a vida nunca foi lá muito fácil para Edgard Eugênio que até hoje procura ser seu pai e sua mãe, ao mesmo tempo. Ele também procura ser o pai e a mãe de muitas pessoas que ele vai conhecendo.
*
Um dia Edgard e Angélica se conheceram, se apaixonaram e se juntaram.
Juntaram dentro da mesma casa seus medos, suas carências, suas lágrimas, seus sonhos mais valiosos e fizeram um filho, a vida seria grandiosa.
Mas depois foram perdendo a gargalhada, o riso, e a vontade de estar junto. A rede parou de balançar.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Gosto do pensamento da Betty Milan, suas opiniões, uma escritora psicanalista que formou-se em Medicina pela FMUSP e em Psicanálise na França com Jacques Lacan.
Autora de ensaios, romances, crônicas e peças de teatro, tem um blog na veja on line(www.vejaonline.abril.com.br), espécie moderna de consultório sentimental, e sua lucidez pra dar conselhos é o máximo:

"Nós freqüentemente sofremos por não querer saber o que acontece e o não querer saber é inclusive um conceito psicanalítico.
Você pode tentar se analisar sozinho, lendo um livro, ou buscando a ajuda de um terapeuta. O importante é enveredar pelo caminho que traz luz, o caminho de quem deseja saber. De quem não quer persistir na paixão da ignorância, a mais negativa das paixões humanas.
"A pior paixão é a da ignorância. Diz respeito ao modo como lidamos com o nosso inconsciente, ao quão atentos ou ao quão surdos somos para ele. Quão recalcadas as suas manifestações ou quão bem acolhidas. "

"O amor só escraviza quem precisa ser escravo."

"Amar faz bem. Quem ama bebe na fonte da juventude...O amor é uma aposta na liberdade - te amar exatamente como você é."

Ela também ensina você a SER QUEM VOCÊ QUISER, a nâo falar de tristezas, a nao dar existencias a elas atraves de palavras, a ser leve. Diz que o amor é uma consequência do humor e que o amor implica a delicadeza. Isso não é lindo? e não é óbvio? Devemos repetir o óbvio, para que ele não passe despercebido.

E a amizade?

"um amigo nao exige do outro que ele esteja disponivel. Quer o outro no seu caminho. o amigo é desprendido. "


Bem, te isso e muito mais no seu Blog e no seu site :
http://www2.uol.com.br/bettymilan/

Io che amo solo te


Io che amo solo te (Sergio Endrigo - 1963)
*
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C'è gente che ha avuto mille cose,
tutto il bene tutto il male del mondo
Io ho avuto solo te,
io non ti perderò, non ti lascerò
Per cercare nuove avventure
(Per cercare nuove ilusione)

C'è gente che ama mille cose,
e si perde per le strade del mondo
Io che amo solo te,
io mi fermerò e ti regalerò
Quel che resta della mia gioventù

domingo, 16 de dezembro de 2007

DELÍCIA!! Fim de semana também teve lasanha, cinema em casa com pipoca e família. É tudo que eu preciso.

No sábado a gente assistiu O Último Rei da Escócia - Idi Amin Dada. Excelente, o filme mistura fatos reais com a história ficcional do médico particular do ditador. O genial ator Forest Whitaker faz um ditador perfeito. Um ditador sanguinário, megalomaníaco que terminou virando motivo de chacota para a comunidade internacional. Eleito em 1971, 300 mil pessoas morreram em seu governo. Foi deposto e exilado em 1979 e morreu em 2003. É um filme histórico, bem elaborado, que recomendo, como forma de saber mais sobre a África, Uganda no caso, principalmente pra quem não viveu a época, anos 70, com as notícias e tal.
E hoje, domingo, assistimos a uma produção nacional recente, uma comédia, Saneamento Básico, O Filme.
O elenco é de primeira: Fernanda Torres, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Bruno Garcia, Camila Pitanga, Paulo José e tal. Não é um filmaço, mas é legal, leve, diversão, entretenimento, as paisagens são lindas, o filme se passa em Bento Gonçalves e a trilha sonora é toda de lindas músicas italianas. Bonitinho. Bonzinho. Tudo inho. mas Gostei.
E agora, delícia das delícias, naquele que é o melhor lugar do mundo - meu quarto, minha cama - tem um livro a me esperar, tou indo agora, beijos xau. Ah, Marguerite Duras, O Vice-Consul.

Domingo é dia de PIZZA !!

Essa moça tá diferente...tava com sono? mas falou em pizza é a primeira da fila.... Os rapazes já começaram os trabalhos. Encolhe a asa!
Os cavalheiros nem conversam, nem respiram, se acabam...

Propaganda do estabelecimento aqui pertinho de casa....
Será que o garçom esqueceu-se de mim? Cara de Gato Fedorento.....

Princesinha mais alegrinha barriguinha cheia, pode trazer a conta que Papito paga.

Mas os marmanjos ainda não terminaram! Afe....






sábado, 15 de dezembro de 2007

"Não sou pessimista, prefiro pensar que um dia a vida será mais justa" - Oscar Niemeyer - 100 anos


Dentro de Adélia


Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa.
Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo
de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra que, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai
Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros,
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôôi fia.
.
.
.
Hoje estou velha como quero ficar.
Sem nenhuma estridência.
Dei os desejos todos por memória
e rasa xícara de chá.
.
.
.
Velhice
é um modo de sentir frio que me assalta
e uma certa acidez.
O modo de um cachorro enrodilhar-se
quando a casa se apaga e as pessoas se deitam.
Divido o dia em três partes:
a primeira pra olhar retratos,
a segunda pra olhar espelhos,
a última e maior delas, pra chorar.
Eu, que fui loura e lírica,
não estou pictural.
Peço a Deus,
em socorro de minha fraqueza,
abrevie esses dias e me conceda um rosto
de velha mãe cansada, de avó boa,
não me importo. Aspiro mesmo
com impaciência e dor.
Porque sempre há quem diga
no meio da minha alegria:
'põe o agasalho'
'tens coragem?'
'por que não vais de óculos?'
Mesmo rosa sequíssima e seu perfume de pó,
quero o que desse modo é doce,
o que de mim diga: assim é.
Pra eu parar de temer e posar pra um retrato,
ganhar uma poesia em pergaminho
.
.
.
.
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
.
.
.

O livro ainda é o mesmo: Poesia Reunida, coletânea de livros de Adélia Prado. Todos aqui são de O modo poético. Daí os temas parecidos, ligados entre si. E o modo feminino e simples de ver a vida. Sinto-me agora dentro desse mundo. O mundo de Adélia. Triste, alegre, realista, mas sobretudo triste. Já disse nesse blog, é a dor a matéria prima que inspira os grandes poetas. É a dor.
Neste mesmo livro Adélia tem poemas para a cor roxa, para a amarela e a laranja. Um colorido que tentei reproduzir aqui.
A 1ª poesia é Poema esquisito, pg 21.
A 2ª é Trégua, pg 30.
E a 3ª é Páscoa, pg 29.
E o último é Exausto, pg 27.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

"As outras meninas bailavam, eu estacava querendo e só de querer vivi."

Não tem mar, nem transtorno político,
nem desgraça ecológica
que me afaste de Viriato.
Vinte invernos não bastaram
pra esmaecer sua imagem.
Manhã, noite, meio-dia,
como um diamante,
meu amor se perfaz, indestrutível.
Eu suspiro por ele.
Casar, ter filhos,
foi tudo só um disfarce, recreio,
um modo humano de me dar repouso.
Dias há em que meu desejo é vingar-me,
proferir impropérios: maldito, maldito.
Mas é a mim que maldigo,
pois vive dentro de mim
e talvez seja Deus fazendo pantomimas.
Quero ver Viriato
e com o mesmo forte desejo
quero adorar, prostrar-me,
cantar com alta voz Panis Angelicus.
Desde a juventude canto.
Desde a juventude desejo e desejo
a presença que para sempre me cale.
As outras meninas bailavam,
eu estacava querendo
e só de querer vivi.
[...]

Os diamantes dão indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
.
.
.
O 1º poema é O Sacrifício, pág. 357 e o 2º é Pranto para comover Jonathan, pág 356. O livro é Poesia Reunida de Adélia Prado. Editora Siciliano. Com todo o respeito de uma fã incondicional, onde Adélia colocou Jonathan eu coloquei Viriato. Por considerar a causa nobre.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Maysa - Ne me quitte pas - a melhor interpretação de todas, passando a perna inclusive em Nina Simone (que é o máximo)

http://br.youtube.com/watch?v=lIrEewDVEhQ&feature=related

Não me deixe
Devemos esquecer tudo
pode ser esquecido
Que já tenha passado
Esquecer os tempos dos mal-entendidos
E os tempos perdidos
Tentando saber como
Esquecer as horas que as vezes mataram
Com sopros de porque coração de felicidade
Eu vou te oferecer pérolas de chuva
Que vêm dos países onde não chove
Eu vou cavar a terra até a minha morte
Para cobrir teu corpo de ouro e luzes
Eu farei uma terra onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde tu serás a rainha
Não me deixe, não me deixe, não me deixe
Eu inventarei palavras sem sentido que tu compreenderás
Eu te falarei sobre os amantes
Que viram duplamente
Seus corações incendiarem-se
Eu te contarei a história deste rei
Morto por não poder te reencontrar
Não me deixe, não me deixe, não me deixe
Nós frequentemente vemos
Renascer o fogo, do vulcão antigo
Que pensamos estar velho demais
Nos é mostrado em terras que foram queimadas
Nascendo mais trigo do que no melhor abril
E quando vem a noite com um céu flamenjante
O vermelho e o negro não se casam
Não me deixe, não me deixe , não me deixe
Eu não vou mais chorar, eu não vou mais falar
Eu me esconderei lá para te comtemplar
A dançar e a sorrir
E para te ouvir cantar e então rir
Deixa que eu me torne
A sombra da tua sombra,
a sombra da tua mão
A sombra do teu cachorro
Não me deixe, não me deixe, não me deixe

No you tube tem a versão traduzida mas a harmonia não está no tempo certo, por isso optei por esta cópia e eu mesma coloquei a tradução que é linda. No you tube, ainda, entre os comentários, tem um fofo onde alguém diz assim: " Para essa música não basta saber fluentemente o francês, é preciso ter interpretação dramática, coisa que só Maysa tinha." Outro diz: " Já ouvi franceses cantando essa música, mas nenhum supera Maysa na interpretação." E um outro: "força, emoção, comovente. Interpretaçào visceral." Tudo isso é Maysa. É demais!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Acabo de ler a biografia de D.PedroII de José Murilo de Carvalho


"No retrato apaixonado traçado pelo historiador, o homem que governou o Brasil por meio século(superado em tempo de governo apenas pela Rainha Vitória) com "os valores de um republicano, com a minúcia de um burocrata e com a paixão de um patriota" deixou um exemplo de senso de dever, tolerância, liberalidade e quase inacreditável respeito pela liberdade de imprensa.
De todas essas características, a mais surpreendente é a fé republicana. Como poderia defender um sistema de governo que implicava sua própria extinção? Em defesa da tese republicana, pesam escritos do próprio Pedro II. "Nasci para consagrar-me às letras e às ciências, e, a ocupar posição política, preferiria a de presidente da República ou ministro à de imperador", escreveu ele numa espécie de auto-retrato feito em 1861 no diário habitualmente dedicado a registrar fatos mais rotineiros. Outros trechos reveladores:
• "Jurei a Constituição; mas ainda que não a jurasse seria ela para mim uma segunda religião".
• "A nossa principal necessidade política é a liberdade de eleição; sem esta e a de imprensa não há sistema constitucional na realidade, e o ministério que transgride ou consente na transgressão desse princípio é o maior inimigo do estado e da monarquia".
• "Leio constantemente todos os periódicos da corte e das províncias. (...) A tribuna e a imprensa são os melhores informantes do monarca".
Também se atribui a Pedro ter dito: "Eu sou republicano. Todos o sabem. Se fosse egoísta, proclamava a República para ter as glórias de Washington". Está aí uma das explicações para a sua "estranha simpatia" republicana, segundo José Murilo de Carvalho: na visão dele, a monarquia era necessária como uma "fase de preparação" do país para um futuro mais evoluído.
O imperador tinha opiniões honrosas sobre praticamente todos os assuntos importantes. Era a favor de eleições livres e ardoroso defensor da educação como instrumento democrático."
fonte: Revista Veja edição 2034 - 14/11/2007
Particularmente gosto de todos os livros de José Murilo. Esta biografia está impecável, muito bem documentada, as fontes as melhores. E... me apaixonei ainda mais por D. Pedro II. Um monarca respeitado no mundo todo, que nos enche de orgulho. José Murilo escreve muito bem, seus livros não são indicados apenas para historiadores, muito pelo contrário, prosa agradável, lê-se rápido e deixa saudades. Recomendo também de José Murilo: Bestializados.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Gregório de Matos Guerra: um soneto para mim!


Anjo no nome, Angélica na cara

Anjo no nome, Angélica na cara
Isso é ser flor, e Anjo juntamente
Ser Angélica flor, e Anjo florente
Em quem, se não em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus, o não idolatrara?

Se como Anjo sois dos meus altares
Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda
Posto que os Anjos nunca dão pesares
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda
.
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.
.
.
Adoro o Boca do Inferno, tanto quanto ou mais que Ana Miranda.
Espelho de um país que se formava, Gregório (1623-1696) extraiu poesia de uma língua européia recém-transplantada aos trópicos. Sua poesia pode ser erótica, pornográfica, ou lírica e religiosa, mas ficou bem conhecido por sátiras com violentos ataques pessoais a desafetos. O poeta maldito. Expressão do nosso barroco. Era de família baiana abastada, advogado formado em Coimbra, boêmio, mulherengo, irreverente e doidinho por mulatas.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Escola Augusto Severo - A minha revolução













"Pedagogia do oprimido é, na minha opinião, a obra-prima de Paulo Freire. Nesses últimos quinze anos tenho trabalhado ativamente em educação popular, e aquela tem sido a minha principal obra de referência. Ela provocou, em mim e em muitos outros educadores, uma verdadeira revolução copernicana em matéria educativa. Fez-nos ver que não há culturas diferentes. E que o oprimido, quando educando, pode não saber exatamente o que sabe o educador e, em geral, porta valores que a educação burguesa, bancária, degenera naqueles que, como eu, foram formados por ela. Daí a importância de, no trabalho popular, o educador deixar-se educar pelos educandos. Deve haver uma interação permanente entre educadores e educandos, de tal modo que a própria função possa se inverter em constante alternância.
Na teoria, estamos todos de acordo. Mas é também verdade que, malgrado esta obra mestra de Paulo Freire, muitos educadores que enchem a boca de propósitos libertadores continuam a praticar a pedagogia opressora, num direcionamento nem sempre sutil, como se os conceitos cartesianos possuíssem a chave da História. Daía importância, atualíssima, desta obra de Paulo Freire, este sim um aprendiz obstinado neste vasto território da educação, onde tantos se arvoram em mestres (Frei Betto, teólogo e escritor).

domingo, 25 de novembro de 2007

Nossos filhos não são nossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.


Amor não vá embora
A vida corre
É sol de novo agora
E ainda chove
Amor, o belo é breve
E a dor não morre
Se não estás
E se não há
Como te ver

Amor não haverá um outro dia
Que possa me trazer tanta alegria
A vida me sorri nesse teu riso
É tudo o que eu preciso
Não vá embora

.

.

.



A VIDA CORRE (ANEMA A CORE)(D'Exposito - Tito Manlio - versão: Nelson Motta) Violão: Roberto Menescal Baixo: Tavinho Fialho Teclados: Julinho Teixeira Percussão: Barney Arranjo: Roberto Menescal

sábado, 24 de novembro de 2007

O que é ser de ESQUERDA?


Achei arretado, e por isso reproduzo aqui, essas duas cartas à redação da Revista Caros Amigos, maio 2007:


"Acho que ser de esquerda é mais do que um partido político, mais do que um muro, mais do que um livro, mais do que um presidente. Ser de esquerda é não olhar somente para o próprio umbigo, é saber que há mais pessoas nesse mundão, é amar o próximo. Todo ser humano que vê que o mundo está errado, que fica revoltado quando assiste na televisão aquelas crianças com barriga grande desnutridas na África, ou mesmo no Brasil, ou, todo sujeito que tem vontade de mudar tudo isso, é de esquerda. Pense em Jesus Cristo, um comunista antes do comunismo.[...] Sou de esquerda e vou continuar sendo até meu último suspiro." Régis Mendes Munhoz.


"Ser de esquerda é sensibilizar-se ao ver uma árvore ser cortada. É fechar a torneira enquanto escova os dentes. É reciclar. É não passar horas no chuveiro. É guardar o lixo na bolsa até encontrar uma lixeira. [...] Ser de esquerda é sentir-se mal ao ver um deficiente físico pedindo esmolas nas ruas. O mesmo para crianças, mulheres, idosos, qualquer um. É dar passagem no trânsito, respeitar as diferenças. Indignar-se vendo um negro ser abordado por policiais, sob suspeita sem fundamento. Cobrar seus direitos, ser crítico, ser ético. [...] A esquerda é na verdade um estado de espírito. " Lucas Moreira Sales

Antigos problemas desta nem tão nova ordem social....


Acho que foi a partir dos 12 ou 13 anos que minha filha passou a "sofrer". Quantas vezes encontrei minha filha sofrendo horrores porque queria uma nova calça jeans. Ela movia mundos e fundos, só pensava naquilo, só tinha aquele assunto, até conseguir. Na hora da aquisição era uma felicidade tamanha. E inconsistente. Alguns minutos e o sofrimento voltava, desta vez na forma de uma bolsa da moda. Essa insatisfação eterna que à mim me parecia patológica, nos fazia sofrer, à ambas, mesmo que por motivos diversos. E despertou em mim a fúria, ou a determinação de caminhar em sentido oposto. Argumentar dando o exemplo é o poder. Passei a agir em sentido contrário. As propagandas de televisão ou revista quase não tinham poder sobre a minha pessoa.

A globalização (pense numa palavra batida) é na verdade uma globocolonização, na medida em que, uma determinada cultura e uma determinada concepção de vida, são impostas ao mundo e não várias concepções e culturas.

Você vai na china, entra numa loja de cd's e dá de cara com um poster do Michael Jackson. Tudo bem. Nada contra os chineses gostarem de Michael Jackson mas gostaria que nas lojas de Nova Iorque houvessem posters de um chinês....

Em Manaus, vi moças que faziam "cooper"(vixe ainda se usa essa palavra? claro que não né?) corriam na orla do Rio Negro com meias de lã (polainas) até o joelho (calor de 40 graus) porque havia uma novela da rede globo idem.

Podemos questionar se o fato de adolescentes e jovens terem essa necessidade de "pertencer" à um grupo, ou de não se sentir feio ou diferente, seria uma atenuante. Ok. Sim Seria. Pode ser da idade, pode ser uma fase. Pode passar. Mas pode ficar pior.

Essa sensação de eterna insatisfação que acompanha a maioria das pessoas de nossa era, adolescentes, jovens, adultos e corôas, advém do fato de que, nosso projeto de sociedade está hoje ancorado em bens finitos.

Essa é a nossa frustração: os bens finitos são finitos, mas o desejo é infinito.

Quando centrado em bens finitos o desejo não encontra satisfação.

Os bens da dignidade, ética, liberdade, paz, amor são infinitos mas não têm valor de mercado, não podem ser comprados. Não geram lucros exorbitantes, nem enriquecem magnatas.

Todo o projeto neoliberal do capitalismo é baseado no ter e não no ser. (projeto este que, provado está, não se sustenta, devido ao colossal abismo social que vai criando. Sua injustíssima e indecente distribuição de renda: pequenas ilhas de prosperidade cercada de fome e miséria por todos os lados).

Corremos o risco de perda de sentido e entramos num vazio.

A vaca está feliz em sua plenitude bovina e o cachorro na sua plenitude canina precisa apenas de comidinha e carinho para ser feliz.

Somos o único animal que não pode deixar de sonhar. O sonho completa o que de incompleto existe em nós.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Sétima Arte - filmes que gostei demais

Tomates verdes fritos
Camille Claudel
Giordano Bruno
Shakespeare Apaixonado
Minha Amada Imortal
Amistad
A Queda- as últimas horas de Hitler
O príncipe das Marés
Drácula de Bram Stocker
Fahrenheit 11 de Setembro
Pequena Miss Sunshine
Duplex
Billy Eliot
Jogue a mamãe do trem
A Morte lhe cai bem
Chá com Mussolini
Um drink no Inferno
Os amores de Picasso
Nós que aqui estamos por vós esperamos
Brincando nos Campos do Senhor
Despedida em Las Vegas
O Piano
Short cuts - cenas da vida
Lanternas Vermelhas
Central do Brasil
Os Normais - Sem Cortes
Canudos
Abril Despedaçado
Bicho de Sete Cabeças
Mauá - O Imperador e o Rei
Carlota Joaquina
Olga
Todos de Woody Allen
Todos de Almodóvar
Todos Chaplin

sábado, 17 de novembro de 2007

Dona Doida


De todos os poemas de Adélia Prado, esse, Dona Doida, pisa com alpercatas de arame, como diria Chico César, bem no fundo da minha alma, e dói demais. Dói muito. Antes, quando eu sentia essa dor, eu tomava dorflex achando que ia passar...nunca passou. Nunca mais vai passar.

Eu ainda não falei sobre a minha mãe, porque é uma relação tão dolorida que eu não sei explicar. Dona Helga é Dona Doida. E é também tudo o que sofre em mim. Talvez com o tempo eu entenda. Mas já se vão 5 anos de terapia, e essa dor que só aumenta.





Dona Doida
Adélia Prado
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.




O texto acima foi extraído do livro "Poesia Reunida", Editora Siciliano - 1991, São Paulo, página 108.

Surto Machadiano


Meu filho estava lendo Helena. "Ó que bom meu filho! Lendo Machado de Assis..." Ele respondeu que era "a pulso", a professora mandou. Ah, mesmo a pulso é bom demais, porque quando estiver no meio você vai estar roendo todas as unhas para descobrir o mistério que envolve Helena. Em que página você está? Vamos ver quem termina primeiro? Mas a senhora disse que já leu... Já li, mas me deu vontade de ler de novo..tem umas coisas...que eu não me lembro. Muito bom. Fantástico. Eu não disse? Ele ADOROU o livro!

E eu surtei: me internei no sanatório junto com O Alienista e depois, que maravilha, Onze Contos (adoro contos) de Machado de Assis, seleção de Célia Passoni para a Coleção Núcleo de Literatura, 1994.
Os contos são um caso à parte. Machado é considerado pioneiro neste gênero, foi ele que o introduziu de maneira sistemática na literatura brasileira.
O conto é um relato conciso, cuja precisão está assentada na sutileza de idéias, na sobriedade do estilo e na exposição resumida, com limites de tempo, espaço e personagens. A condensação da narrativa e a rapidez da ação são elementos primordiais. Pois Machado, também nesse gênero, trabalhou com maestria. Os desse livro são da fase realista. Que prazer saborear quando Machado elabora sua análise psicológica dos personagens! A análise da insatisfação dos homens; buscam aquilo que não podem alcançar. Valores profundos colhidos do interior da alma. E suas considerações filosófico-metafísicas? A forma como ele utiliza o elemento surpresa e o inesperado, tudo, tudo em Machado de Assis é supremo, sendo altíssimo e apurado o nível estético de sua criação.
Bem, já terminei esse também, vou agora procurar na estante outro Machado de Assis pra reler.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A História como PAIXÃO


Quando estou com meus alunos, meu objetivo é socializar conhecimentos historicamente adquiridos. Afinal, tais conhecimentos não são exclusividade de uns poucos privilegiados. Eles também pertencem àquela parcela da sociedade, que é majoritária, mas tem tudo pouquinho, inclusive oportunidades. Então, diante deles, tento superar determinadas posturas educativas que corroboram com uma formação humana limitada. Quero interferir intencionalmente em relações educacionais alienadas e alienadoras.

Quero construir uma prática pedagógica auto-consciente, articulada com projetos educacionais socialmente críticos, democráticos e cidadãos, mediados pela competência técnica.

Neste ofício, de professor de História, trabalho o conhecimento, de forma que o aluno se sinta na condição de sujeito social. Minhas explicações miram na direção da compreensão do mundo.

Além disso, é preciso que o aluno tome conhecimento de seus direitos. Faço isso trabalhando valores, hábitos, atitudes e comportamentos que estimulem e possibilitem o pleno exercício da cidadania.

Na prática, isso significa proporcionar orientações básicas para que o aluno potencialize ou desenvolva: 1 - a defesa dos direitos humanos, 2 - o sentimento de igualdade entre homens e mulheres, 3 - a solidariedade, 4 - o respeito ao próximo, 5 - a integração dos deficientes, 6 - o respeito ao meio ambiente, 7 - tolerância em relação às minorias, 8 - a rejeição à toda e qualquer forma de discriminação, 9 - abertura em relação à outras culturas, 10- -participação democrática na vida política. Parece muito? É nada, é não. É o mínimo. Os próprios conteúdos nos proporcionam ricas oportunidades de interferir, fazer comparações. A palavra como instrumento, na construção da cidadania.

Eu acredito no poder transformador da palavra


Todos aqueles que ainda têm a ousadia de falar e escrever
acreditam, ainda que de forma tênue, que o seu falar faz uma
diferença. Isso é de crucial importância para o educador, e dessa
crença depende o seu sono e o seu acordar. Porque, com que
instrumentos trabalha o educador? Com a palavra. O educador fala.
Mesmo quando o seu trabalho inclui as mãos, todos os seus gestos
são acompanhados de palavras. São as palavras que orientam as
mãos e os olhos.


Rubem Alves. Conversas com quem gosta de ensinar. Campinas
SP: Papirus, 2000, p.35. Adaptado.

O que me encanta? É a palavra.

Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.




Carlos Drummond de Andrade.
Poesia completa e prosa.
Rio de
Janeiro: José Aguilar, 1973.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Blog do Homem Sincero....doidinho...mas lá vai...

Sabe aquela coisa que você acha ruim e brega mas sempre lê?
tem umas frases que ele diz de vez em quando que me dá vontade de colocar aqui. Lá vai:

"Uma relação em que você se sinta na obrigação de parecer melhor do que é não pode ter um futuro muito brilhante." Já passei por isso e é uma grande verdade.

"É curioso, nas relações, como muitas coisas que vemos no começo como virtudes no outro ou na outra se transformam depois, aos nossos olhos, em defeitos. O tempo é cruel como um velho cossaco russo." essa eu não sei não....

"a melhor coisa que você pode fazer quando se vê numa conversa destruidora com sua namorada é encerrar essa conversa enquanto os danos não são tão grandes assim." sabedoria pura, certíssimo.

"Ela me disse: “... eu odeio você. Quero que você se ferre.” Nadja me odeia e eu aceito que seja assim. O grande amor só é grande amor se terminar em maldição eterna." esse eu também tou na dúvida, mas já vi casos....

Mas uma parte legal ele falou do livro do Marçal:
"É poético o nome do livro mais recente de Marçal: Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios. Marçal conta que, numa feira literária, disse em público: que editor publicaria um romance com um título desses? Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, levantou a mão.Li e gostei: bem escrito, sensual. O leitor homem que é homem mesmo tem vontade de comer Lavínia, a fêmea fescenina do livro de Marçal. [...] Falamos em roteiros. Marçal escreveu alguns, como Cheiro de Ralo. O melhor criador de diálogos que o Brasil já teve foi o ...”, começo a dizer, “... Nelson Rodrigues”, terminamos juntos Marçal e eu. Ailin faz cara de quem concorda,. É nas peças de Nelson Rodrigues, mas não só nelas, que estão os maiores diálogos já escritos em português. [...] Marçal está escrevendo um livro novo. Um anão rico que busca o amor. Ele estudou o mundo dos anões para escrever o livro. Me ocorre uma das grandes frases de Nelson Rodrigues. “O dinheiro compra até o amor verdadeiro.” Vocês concordam, pergunto."
http://www.ohomemsincero.globolog.com.br/

Vamos brincar de listinhas?

Filmes que amo:

O Amante
Telma e Louise
A casa dos Espíritos
Sociedade dos Poetas Mortos
O Paciente Inglês
O Jardineiro Fiel
Seven
Sete Rainhas
Perfume de Mulher
Amélie Poulain
Lisbela e o Prisioneiro
Baile Perfumado
Bye Bye Brasil
Cinema Paradiso
Um corpo que cai
Curtindo a vida adoidado
De volta pro futuro
Silencio dos Inocentes
Melhor Impossível
91/2 semanas de amor
O nome da Rosa
A fantástica fábrica de chocolate
O último Imperador
Uma mente brilhante
O talentoso Mr. Ripley
A lista de schindler
Dogville
Efeito borboleta 1
Babel
Diamantes de Sangue
Os Infiltrados
Hotel Ruanda
Fred e Elsa
Albergue Espanhol
Matrimonio a la italiana

mas se a gente for pensar só mais um pouquinho tá faltando um montão

domingo, 4 de novembro de 2007

Trailer de livro - O Cheiro de Deus

"Durante a noite, Vó Inácia conversava com o rifle a tiracolo sobre o pecado e as penitências que cada um de nós dá a si mesmo.
-Se eu fosse viver de novo, irmão rifle, com o que aprendi como cega, eu ia agir como se todo dia fosse dia de festa. Eu ia decretar um feriado nacional só pra mim e viver cada coisa sem o sentimento de pecado, sem o sentimento de culpa que está matando meu filho Red Label. No Contestado, rifle velho de guerra, você sabe, eu não tinha a sabedoria de uma cega e vivia como se todo dia fosse Sexta-feira da Paixão.
Respirava fundo, acariciava o rifle e continuava:
- Não é pecado ser feliz, irmão rifle. O que estraga tudo é esse sentimento judaico-cristão de culpa. Culpa por estar alegre. Culpa por estar feliz. Culpa por amar. A alegria, a felicidade e o amor, irmão rifle, são invenções de Deus. Mas eu sempre agi como se fossem invenção do Diabo. É a maneira branca de ver a vida que fez isso comigo, irmão rifle. Quando Catula vira uma negra, perde o sentimento do pecado. Uma vez, em Cruz dos Homens, Catula ficou negra 13 dias e 13 noites e nunca eu a vi tão feliz. Ser triste é que é ser pecado. Se eu fosse viver de novo sabendo o que eu sei hoje, ia dançar e rir e amar.
Ria para o rifle a tiracolo e voltava a conversar:
- Tive que ficar cega, irmão rifle, para saber: viver é um ato mágico. É a grande mágica de Deus.
[...] Mas a Catula negra ri e faz festa, porque a Mãe África ri, é pobre, mas ri, e Portugal e a Espanha e o Brasil pensam que ser alegre é pecado, e se penitenciam. Mas Deus não quer ver ninguém triste."
Roberto Drummond. Capítulo 33, página 367.

Pausa - Praia dos Carneiros-PE

meditação transcendental

Praia dos Carneiros

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O nome dela é Dena

Naquela época eu tinha: um emprego de executiva de vendas em uma multinacional, um bebê de seis meses e nenhum parente em Recife. O pai da criança idem na mesma ordem. Ou seja: eu estava d e s e s p e r a d a. Quase apelando para a opção do berçário, opção esta que me desagradava. Foi então que Dena chegou lá em casa com excelente referência. Aliás, ela não chegou lá em casa. Ela caiu do céu. O bucho do céu estava furado e Dena caiu lá em casa. Magrinha e muito tímida, tínhamos que fazer um certo esforço para ouvir a sua voz. Edgard tinha seis meses de idade. Tainá tinha 10 anos. E já se vão tantos anos. Maravilhosos anos. Muita história pra contar. Essa mulher criou meu filho enquanto eu trabalhava no sentido neoliberal capitalista da palavra. Crescemos todos juntos. Eu, Dena, Tainá e Edgard, hoje tenho certeza, um ajudou o outro a crescer. Mas ela não foi só a mãe do "Gal"(era como ela o chamava) foi a mãe de todos nós! Foi meu pai, minha mãe, meu tudo, a rainha do meu lar. Acompanhou os piores momentos da minha vida, torceu e vibrou pelos melhores. Inteligente, evoluiu como pessoa e como profissional, sempre ajudando a própria família no interior, onde Edgard ia sempre nas férias.
Bem, hoje estou feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por ela, porque Dena bateu asas e alçou vôos melhores. E triste como se uma filha minha fosse morar longe: que saudade daquela presença. Tive que esperar passar dois dias pra conseguir blogar esse poster sem molhar o teclado.
Dena foi uma das pessoas mais importantes da minha vida e tem um camarote vip dentro do meu coração. Deixa de ser funcionária de nossa mansarda e passa a ser um membro super-especial de nossa família. Sempre será a mamãe-outra do meu filho. Difícil ser amiga dentro de uma relação patrão-empregado.
E agora somos amigas mesmo. Amigas livres deste contrato.
Dena! Tou levando uma grade de cerveja gelada aí pra sua casa! Tem o quê de tira-gosto?
e sempre me aguente porque você nunca vai ficar livre de mim!! uahuahuahauhauhauahuahauh

sábado, 27 de outubro de 2007

Eu também leio Caros Amigos


Leio desde o nº 1, já se vão 10 anos? 11 anos, que vitória, e gosto muito. Um verdadeiro oásis no deserto em que se transformou essa mídia um nojo 'praticada nos moldes da sociedade espetáculo, da generalização do segredo' como diz Marilene Felinto essa pernambucana arretada, uma das primeiras colunas que leio quando abro a revista. Ana Miranda, que saudade do Leo Gilson Ribeiro, Frei Beto, enfim o time da revista é massa. Entrevistas Explosivas MESMO.
Gosto de ler coisas que me desconcertam, me desorientam, ou me orientam, me tiram daquela mesmice. A Marilene Felinto tem essa propriedade de sempre sempre me desconstruir.

1808 - A chegada da Família Real ao Brasil

História é a minha paixão. Nenhum tema me é tão prazeroso, quer seja em forma de livro, quer seja em forma de filme. Este livro, um deleite. Resultado de 10 anos de pesquisas e amparado na mais séria bibliografia. D. João VI foi o único soberano europeu a colocar os pés em terras americanas em mais de quatro séculos. Laurentino desfaz mitos deste episódio frequentemente lembrado apenas de forma caricata. Seus personagens podem ser, sim, inacreditavelmente caricatos, mas isso é algo que se pode dizer de todos os governantes que os seguiram, inclusive alguns muito atuais. 400 páginas. Estou amando.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

um é pouco, dois é bom mas, e três? já será demais?

Vez por outra alguém fala (em forma de crítica) dessa minha mania de ler vários livros ao mesmo tempo. Será que alguém pensa que eu estou fingindo e que na verdade eu não leio é nada? Gasto a maior grana só pra tirar onda por aí carregando peso, será? Claro que eu não leio exatamente-literalmente ao mesmo tempo. É muito natural, não vejo nada demais nisso, que eu começo a ler um livro, estou gostando, mas me aparece outro igualmente simpático, leio a crítica, me interesso. Inicio a leitura sem contudo terminar o livro anterior. Não existem regras. Só podemos iniciar a leitura de um livro se já não estivermos lendo mais nenhum. Não existe essa regra nem na quinta série. E são grandes as possibilidades de iniciar a leitura de um terceiro livro, ficando nesse revezamento interessantíssimo. Até que um deles se acabe; não necessariamente o primeiro da lista, se é que você me entende. Não raro acontece de um livro ser muito denso, de complexa leitura. Que tal, para relaxar, revezar com um Simenon?
Por falar nisso terminei Anais Nin e logo em seguida Saramago. Delta de Vênus e Pequenas Memórias. Isso é o que podemos chamar de um gosto eclético. Olha, todo mundo tem que ler Delta de Venus. Principalmente os tímidos, reprimidos sexualmente. É didático. Vale por várias sessões de terapia sexual e sai muito mais barato. Amanhã eu falo do livro imenso que estou lendo agora. Chega dá preguiça de segurar. Mas estou AMANDO. beijos. Tô morrreeeendo de sono.

sábado, 20 de outubro de 2007

A íntima relação entre a poesia e a dor

Será preciso sofrer o pão que o diabo amassou para ser um bom poeta? A julgar pela biografia dos melhores poetas, a resposta é sim. A matéria prima da poesia é a dor.


Paulo Leminski nasceu em Curitiba, 1944, e foi batizado com o nome do pai, descendente de poloneses. Brigou a vida inteira com o irmão mais novo, Pedro, que se enforcou em 17 de dezembro de 1986. A morte rondava a trajetória de Leminski, que perdeu também o primeiro filho, Miguel Ângelo, vencido pelo câncer em 1979, aos 9 anos de idade. Ele próprio esperava a morte desde que os médicos lhe preveniram, perto dos quarenta anos, que seu fígado e pulmão não resistiriam àquela vida regada à vodka, cigarro e outras drogas. " Maremotos em mares mortos. Pai morto. Mãe morta. Filho morto. Irmão morto. Como querer que minha vida não seja torta?", escreveu em 88, um ano antes de morrer.No final dos anos 60, Leminski apaixonou-se por Alice Ruiz, também poeta. Nos 19 anos em que viveram juntos, além de Miguel Ângelo, tiveram as filhas Áurea e Estrela. Foi Alice quem, dez anos depois da morte do companheiro, pensou em expor, em biografia, a alma torturada e brilhante do poeta a quem sempre amou. Nasceu o livro "Paulo Leminski - O Bandido que Sabia Latim". O perfil do homem ímpar que dava aulas de judô e adorava citações em latim. O encontro de Leminski com a irmã de Eduardo Paredes ocorreu alguns anos após Alice Ruiz, vencida na batalha de Leminski contra o álcool e as drogas, sair de casa com as filhas. Durante a agonia do poeta e depois, na morte, cúmplices na dor, Alice e Berenice não se tornaram amigas, tampouco inimigas. Nomes em rima. E só.
fonte: prosapoesiaecia/pauloleminski

Pausa para ninguém menos que LEMINSK


Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.

Blog Action Day


A foto ao lado é só para mostrar a beleza e a imponência dos últimos eucaliptos gigantes da Austrália. O Brasil virou o país do eucalipto. Plantamos esta espécie para celulose com uma produtividade única no mundo. Desenvolvemos variedades que crescem mais rápido, adaptadas ao nosso clima. Mas os brasileiros, que já confundem eucalipto com mato nativo, não conseguem imaginar que a espécie possa alcançar essas proporções que lembram a das sequóias americanas. Já a Austrália, de onde a planta se origina, andou devastando suas florestas primordiais. As árvores gigantes cobriam o estado de Western Austrália. Chegavam a 90 metros de altura e viviam 300 anos. Abrigavam os aborígenes até que foram dizimadas pela indústria madeireira dos primeiros colonizadores. Hoje existe apenas 10% da cobertura florestal original.(Alexandre Mansur, do Blog do Planeta, 20/10/2007)


Ao contrário do que Andréa, uma de nossas 3 leitoras (uau o número de leitores aumentou 50%) comentou, na segunda-feira 15, mais de 20 mil blogs se uniram em torno de uma causa. Foi o primeiro Blog Action Day (ou Dia de Ação dos Blogs). Cada blog deveria postar uma nota sobre meio ambiente, tema deste ano, adaptada a seu assunto principal. O sucesso foi grande. A busca em blogs do Google registrou 34 mil vezes a expressão "Blog Action Day" durante a semana. Estima-se que pelo menos 15 milhões de pessoas leram sobre o assunto em blogs nesse dia, sendo que 19 desses blogs estão entre os cem principais do ranking feito pelo site Technorati.
Lembrando que o blog do Planeta do Alexandre Mansur faz isso mesmo todo dia. Só notícias sobre meio ambiente: http://blogdoplaneta.globolog.com.br/






segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Blog Action Day - 15 de outubro - Blogagem coletiva de preocupação ambiental

O LIXO - RECIFE E REGIÃO METROPOLITANA



A análise dos dados da reciclagem aponta uma situação com duas faces opostas. A primeira, lamentável, é que se percebe quanto dinheiro os governos e as pessoas gastam com o desperdício do lixo. Resultado da ainda pequena relevância da coleta seletiva nas cidades e nas residências e dos gastos vultosos com a coleta tradicional.
O lado animador é que a coleta e a reciclagem do lixo (resíduos sólidos) cresce de forma surpreendente, colocando o Brasil entre os principais recicladores do mundo e, principalmente, criando um espaço econômico para a inclusão de parcelas excluídas pelo processo de globalização, que criou grandes contingentes de miseráveis na década de 90.

Em análise da indústria da reciclagem o CEMPRE http://www.cempre.org.br/, destaca:
Nos plásticos:
• Apenas Alemanha e Áustria superam o Brasil em reciclagem mecânica de plásticos (transformação dos resíduos plásticos em grânulos para a fabricação de novos produtos).
• Desde 1994, o crescimento da reciclagem de PET no Brasil foi de 1.200%.
No alumínio:
• Pelo quarto ano consecutivo, o Brasil bateu recorde mundial de reciclagem de latas de alumínio para bebidas. O país atingiu o índice de 95,7%, o que significa 6,7 pontos percentuais acima de sua marca anterior, de acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas).
• Nos cinco últimos anos, o que se observou foi o crescimento da participação das cooperativas e associações de catadores – de 43% para 52%.
• Nesse período, também houve maior engajamento da classe média, sendo que os condomínios e clubes são canais de coleta que cresceram de 10% para 19% em participação.
• Atualmente, o mesmo alumínio de uma lata que sai da fábrica leva apenas 30 dias, em média, para voltar ao mercado como matéria- prima de uma nova latinha. A embalagem é inteiramente reciclada e o processo economiza 95% da energia elétrica necessária para a produção do metal a partir da bauxita.
• Para se ter uma idéia, o volume de energia poupada em um ano – cerca de 1.700 GWh - é suficiente para abastecer uma cidade de mais de 1 milhão de habitantes como Campinas, no interior de São Paulo.
• Com a reciclagem, deixou-se de extrair 600 mil toneladas de minério no ano passado.
Nas embalagem Longa Vida:
• O Brasil é líder nas Américas em volume de embalagens longa vida recicladas. No ranking mundial, perde apenas para Alemanha e Espanha que têm índices de reciclagem de 65% e 30%, respectivamente.
2 – Situação em Pernambuco, Região Metropolitana e Recife
Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a média de lixo produzida no Na Região Metropolitana do Recife é alta: aproximadamente, 1,24 kg/hab./dia.
Ainda segundo esses dados, prevê-se uma geração diária de resíduos no Estado de Pernambuco é de 7.803,06 toneladas/dia, cabendo à a Região Metropolitana 53,01% desse total.
Segundo estudo da Cacto's Consultoria (fonte: reciclaveis.com.br), são produzidas 53 mil toneladas de lixo no Recife, que, se recicladas, poderiam movimentar R$ 4,7 milhões. Atualmente, a prefeitura gasta em torno de R$ 8 milhões mensais com a coleta do lixo sem reciclagem.
3 – A importância da Educação Ambiental para o desenvolvimento da coleta seletiva
Um dos maiores entraves para o desenvolvimento da coleta seletiva é a conscientização das pessoas e organizações, de forma a mudar antigos hábitos arraigados.
Para superá-los, é necessário o desenvolvimento de ações voltadas para a educação ambiental de pessoas e de organizações, de crianças, jovens, adultos, buscando informar, sensibilizar e mobilizar a todos.

Condomínios iniciam uso de coleta seletiva
Imóveis enviam mensalmente para a reciclagem 30 toneladas de lixo
Vidros, plásticos, papel e alumínio. Cada um colocado em seu devido recipiente para em seguida ser levado pela empresa coletora. Esse trabalho está sendo realizado há três meses por 90 condomínios do Grande Recife. São prédios que estão integrados à parceria firmada entre o Sindicato da Habitação de Pernambuco (Secovi/PE) e a Central de Comercialização de Reciclaveis (CCR). Aos poucos, os condomínios estão aderindo à coleta seletiva de lixo. Juntos, eles vêm contribuindo com a reciclagem mensal de 30 toneladas de lixo. A meta da CCR é chegar a 160 toneladas até o próximo ano. Para isso espera contar com pelo menos metade dos oito mil condomínios do Grande Recife. O presidente do Secovi/PE, Luciano Novaes, espera que todos os condomínios se preparem para a coleta seletiva. "Esse trabalho só traz benefícios, pois conscientiza as pessoas em relação ao meio ambiente e gera renda", ressalta. De acordo com ele, a maior parte do condomínios que participa do projeto doa o valor arrecadado para a ONG Beija-flores Solidários, uma entidade mantida pela empresa CCR. Embora não seja um valor elevado - a CRR paga entre R$ 12,00 e R$ 20,00 por 125 quilos de lixo reciclado - o valor é revertido em alimentação e cursos para 80 famílias de catadores de lixo. A coordenadora do projeto de coleta seletiva da CCR, Rosy Motta, explica que o valor pago varia de acordo com o perfil do lixo. Se houver 20% de alumínio, material mais caro, o preço sobe. Segundo ela, hoje, no tipo do lixo recolhido nos condomínios que fazem parte do projeto não há alumínio. Das 125 toneladas, 60% são de papel, 30% plástico e 10% vidro. "O projeto é mais que recolhimento de lixo. Nós levamos educação sócio-ambiental às pessoas. Ensinamos como o lixo deve ser separado", esclarece. Rosy Motta acrescenta que o projeto de coleta seletiva tem várias etapas. A primeira delas é a conscientização dos moradores do prédio e treinamento dos funcionários. Por enquanto, a coleta está concentrada nos bairros de Boa Viagem e Piedade. Mas, segundo a coordenadora, a empresa pretende estender o trabalho para outros bairros, chegando à Zona Norte. "Existe um custo logístico maior, já que o centro de triagem fica em Muribeca. Mas se o prédio tiver a quantidade mínima de lixo (125 toneladas) há como fazer a coleta", ressalta. Para aderir à coleta seletiva os condomínios devem procurar a CCR. A empresa orienta os moradores e funcionários do prédio sobre o processo e oferece os big-bag (saco feito de ráfia para colocar no recipiente) gratuitamente. Assim que os sacos ficam cheios o condomínio marca o horário para o caminhão da CCR passar e efetuar a coleta. A pesagem do material recolhido é realizada no próprio caminhão.

Você mora em condomínio? Conhece alguém que mora? Vamos incrementar a coleta seletiva da nossa cidade???? OLHA O TELEFONE AÍ >



Serviço Central de Comercialização de RecicláveisFone: 3378 4960

domingo, 14 de outubro de 2007

Filosofia para viver melhor: Luc Ferry

Prazer vale mais do que sucesso.
Se dar bem em todas as áreas, profissional, financeira, sentimental tem sido o nosso ideal.
Na contramão das sufocantes cobranças sociais por êxito, o filósofo francês Luc Ferry afirma - e eu concordo com ele - que o que dá sentido à vida, à existência é uma vida bem vivida e não a tão almejada vida bem sucedida.
"Fazemos confusão entre o que a sociedade julga conveniente e aquilo que de fato nos faz felizes." [...] "Essa campanha maciça a favor da performance excepcional está à serviço não da realização pessoal, mas sim da sociedade capitalista"

Nascido em Paris em 1951, Luc Ferry é filósofo e um dos principais defensores do Humanismo Secular - visão de mundo que se contrapõe à religião, por conta de seu compromisso com o uso da razão crítica em lugar da fé, na busca de respostas para as questões humanas mais importantes. Foi ministro da Educação na França de 2002 a 2004. Com Aprender a Viver (no Brasil, editora objetiva), venceu o prêmio Aujourd'hui 2006, um dos mais conceituados de não-ficção contemporânea da França.

sábado, 13 de outubro de 2007

No dia 08 de outubro de 1992 - às 20:30 hs eu tive uma idéia brilhante


Eu e você, meu filho, 15 anos caminhando juntos. Dedico-lhe este poema de Paulo Leminsk. Te amo bem grande dentro do meu coração.


Amor Bastante
quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Marcelino Freire - sertanejo, pernambucano arretado de Sertânia

Marcelino, prêmio Jabuti 2006

Abaixo, o conto Belinha do livro Angu de Sangue, na poderosa e impecável interpretação de Walmor Chagas. Dá-lhe Marcelino! Pernambuco falando para o mundo!

http://www.youtube.com/watch?v=RLBKjlFFFks

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pessoa


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa




Navegar é Preciso



Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

[Nota de SF
"Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu]