domingo, 30 de dezembro de 2007

Cenas de um Natal pós-moderno


Bem, nós já sabíamos que no dia 25 à noite teríamos que embarcar a oura para Portugal. Ela foi convidada a participar do concorridíssimo Reveillon dos Abreu, tradicional família da Invicta cidade do Porto. O máximo!

Esses são os dois irmãos da minha filha. O menor é Lucas, filho de Nelson. O maior dispensa apresentações. Este fez questão de passar o natal com a irmã (que ia viajar logo mais). Esta fez questão de passar com o pai, que fez questão de passar com a madrinha da filha, na residência dos Gouvêa, onde todos tiveram a honra de conviver com o historiador, escritor, jornalista e intelectual Fernando da Cruz Gouvêa, pai da anfitriã. Conversar com Sr. Fernando é priviégio de poucos.

Fernanda, Maria, e Nelson. Lucas e Edgard.

Enquanto isso, bem pertinho dali, nós, eu e minha cara-metade, participávamos da espetacular ceia dos Osbourne. Aqui, eu e meu guru espiritual zen budista tibetano Ricardo Osbourne.

Isso foi de tarde. Deu vontade de ir comer churrasquinho do melhor, no quiosque do Baiano, em frente ao tradicional edifício Jacarandá.

O jeito foi reunião no almoço do dia 24/12. A família reunida quase que morre de tanto rir com o DVD de Zé Lesim, presente de nosso queridíssimo amigo Paulo Romero.
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"O casamento feliz é a união de dois bons perdoadores". Cida.






sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

www.dominiopublico.gov.br

Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos!
Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:
  • ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci
  • escutar músicas em MP3 de alta qualidade
  • ler obras de Machado de Assis ou a Divina Comédia
  • ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA ...
  • ter acesso ao acervo de teses e dissertações da CAPES


http://www.dominiopublico.gov.br/


Só de literatura portuguesa são 732 obras! Praticamente toda a obra de Fernando Pessoa, Shakespeare em português, Machado de Assis....
Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acessos é muito pequeno.
Trata-se de cultura da melhor qualidade e grátis!! É disso que o Brasil precisa!
em um país onde o livro ainda é muito caro e de difícil acesso para 70 % da população!!
Não devemos esquecer que o site do Domínio Público também abriga o acervo de Teses e Dissertações da CAPES. Todo o material do site fica inteiramente à sua disposição.
Enfim, vale a pena a gente se engajar numa campanha destas. Já passei pra toda a minha lista de email!
Vamos tentar reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura. Divulgue para o máximo de pessoas, por favor, BEIJOS

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Estante Virtual - Sebo Virtual!


Sempre gostei de procurar livros nos sebos do centro da cidade.

Mas aí, um dia o livro era difícil demais e eu parti para a internet. Eu nunca tinha procurado um livro na net. Isso foi em 2003. Achei num sebo de Salvador chamado "Graúna Bons Livros Usados". Nossos contatos foram através de email tipo "você tem o livro tal? Quanto custa?"
até a chegada do tijolão em minha casa através do correio. Adorei.
Tempos depois descobri a Estante Virtual.

Uma idéia super-desenvolvida desse sistema que acabo de descrever.

"reune virtualmente os acervos de 734 sebos e livreiros, de 150 cidades, a Estante Virtual é a sua chance de encontrar sempre o livro que você procura. E por um preço que você pode pagar! Chega de bater pernas atrás de livros que você nunca acha, chega de levar para casa um livro que não era exatamente aquele que você queria. E não é só! Todos os leitores cadastrados têm à disposição sua própria estante virtual, para vender livros do seu acervo pessoal para uma comunidade com milhares de leitores de todo o Brasil e de diversos outros países."

Sou cadastrada, recebo por email news letter com novidades e já comprei vários e vários livros, e sempre por mais da metade do preço das livrarias. Os livreiros nos atendem com a maior atenção informando se o livro encontra-se em bom estadoetc. Experimente! faça uma visita, pesquise livros! Não custa nadinha:


Tem também o blog da Estante Virtual, de onde eu tirei esses 10 mandamentos a seguir. Que na verdade são 30 mandamentos (se você quiser conhecer os 30 mandamentos na íntegra, vale a pena, clique em http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/decalogo_do_leitor.html

O escritor Alberto Mussa elaborou os trinta mandamentos para ser leitor, escritor e crítico, que foram publicados na revista Entre Livros. Leia abaixo a versão resumida de dez deles. Para ler a íntegra (vale a pena!), link acima.
I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química.
II - Comece a ler desde cedo, se puder. E pelos clássicos, pelos consensuais.
III - Nunca leia sem dicionário.
IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros.
( o quinto mandamento é o meu preferido. Vou expô-lo na íntegra:)
V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.
V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo.
VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira.
VII - Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável.
VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores.
IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes.
X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente.
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Se você é leitor compulsivo como eu, não pode viver sem livros, livros são seu maior prazer:
Não deixe de visitar o site da Estante Virtual, você vai amar, você vai se deliciar!

sábado, 22 de dezembro de 2007

Família de Cinéfilos

Alguém tem que tirar a foto né? Zero de pipoca em 30 segundos.

Pela fisionomia da platéia parece até que o filme é ruim, mas né não. Hoje no cinema aqui de casa esteve em cartaz "Não Por Acaso" do novo cineasta (em longa ele é novo, esse é seu primeiro) Philippe Barcinski. Duas histórias que se alternam com um ponto em comum: um acidente em que morrem duas mulheres. Uma delas é a ex-mulher de Ênio (Leonardo Medeiros), um engenheiro de trânsito que controla o fluxo de carros em São Paulo. A outra é a namorada de Pedro (Rodrigo Santoro), marceneiro que constrói mesas de sinuca. Os dois sofrem com o luto e depois.... bem não vou contar tudo. Mas o longa é principalmente sobre esse embate entre a vontade e o acaso na determinação de um destino. Rodrigo Santoro, como sempre o máximo.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Deus existe?

Quando eu tinha 28 anos, li Toten e Tabu de Freud, onde ele comprova a inexistência de Deus. Eu que era devota de São Judas Tadeu, tornei-me atéia por uns tempos. Depois voltei a procurar a minha "igreja" sem, no entanto, nunca encontrá-la. Todas me pareciam um comércio como outro qualquer.

Hoje venho me identificando com o agnosticismo, que me parece uma doutrina filosófica mais razoável. Exatamente ela se torna plausível, na medida em que afirma a impossibilidade, veja bem, ela percebe como impossível a compreensão de questões como Deus, a origem e destino dos seres, a origem e destino do universo, porque essas questões, elas não têm a possibilidade de comprovação científica.

Eis o motivo pelo qual Albert Einstein foi sempre tão questionado sobre ciência e Religião. Há frases falsamente atríbuídas à ele como uma espécie de prova, tipo "se Albert Einstein diz que Deus existe então"....e assim o pobre gênio era admoestado exatamente com esse tipo de questão. Qualquer entrevista boba e lá estava a pergunta "Você acredita em Deus?".

Pois não é que Einstein, pelo menos neste quesito, (já que sempre fui péssima em física) teve uma trajetória mística igual à minha! Por vezes tinha certeza e afirmava a inexistência de Deus, para mais adiante, em outra fase ou em outra entrevista (ou para uma outra platéia, quem sabe) afirmar que sem deus nada aconteceria!

Ora, se até Santo Agostinho e Madre Tereza de Calcutá tinham dúvidas sobre a existência de Deus, porque não eu e meu amigo Einstein?

Dizia o gênio:

"O comportamento ético do homem deve ser baseado na simpatia, educação, laços sociais e necessidades; nenhuma base religiosa se faz necessária. O homem estaria com efeito, a viver uma existência desgraçada se estivesse sendo restringido, por medo de punição e ou esperança de recompensa depois da morte." [Albert Einstein, "Religion and Science", New York Times Magazine, 9 November 1930]
"A ciência só pode verdadeiramente ser criada por aqueles que estão imbuídos da aspiração direcionada para a verdade e entendimento. A fonte desse sentimento, no entanto, surge da esfera da religião... A situação pode ser expressa por uma imagem: Ciencia sem religião é patético, religião sem ciência é cegueira." [Science, Philosophy and Religion: a Symposium, 1941.]

"Não posso imaginar um Deus que recompensa e pune os objetos de sua criação, cujos intuitos são modelados para nosso próprio benefício....Um Deus, em suma, que nada mais é do que o reflexo da fragilidade humana. Também não posso acreditar que um individuo possa sobreviver à morte de seu corpo, embora almas tolas aportem tais pensamento por conta do medo ou egoísmo ridículo. [Albert Einstein, obituary in New York Times, 19 April 1955]
"Estou satisfeito com os mistérios da eternidade da vida e com a consciência da brevidade da maravilhosa estrutura do mundo existencial, juntamente com o devotado esforço para compreender um pouco dele, seja ela tão pequena, a razão que a manifeste na natureza."

Para Sigmund Freud deus era uma criação da humanidade. Desde as mais primitivas tribos, o homem inventa seus totens com medo do desconhecido: chuva, trovão e morte. Com a evolução, o ser humano foi apefeiçoando seus deuses, (antes zoomórficos, depois antropomórficos) sem os quais não conseguiria explicar nada, além de precisar de mais proteção, boas colheitas e por aí vai. É meio chocante pra você que, como eu, foi educado em colégio de padre ou freira, mas faz muito sentido. E ainda tem essa culpa judaico-cristã pesando em nossos ombros, já que tudo é pecado e Jesus morreu na cruz para nos salvar desses nossos pecados... Difícil ser feliz quando alegria é pecado, amor é pecado, sexo é pecado, dormir até meio dia é pecado.... Separar do marido é pecado. Frei Damião diria que eu vou pro inferno de cabeça pra baixo!

fonte para as frases de Einstein: http://www.if.ufrgs.br/einstein/frases.html


Quem assistiu Stigmata? (Rupert Wainwright). Muito legal esse filme e dele guardei pra sempre uma frase. A história é a de uns manuscritos que colocavam em risco a existência da Igreja. Eram ensinamentos de Jesus onde dizia: que o verdadeiro templo de Deus não é feito de pedras e nem madeira...o verdadeiro templo de Deus está dentro de cada pessoa. Com essa afirmação, Jesus queria dizer que não há necessidade da existência de um templo ou Igreja (que no caso da católica construiu mundo afora verdadeiros castelos de luxo e riqueza)....se quiser procurar Deus, basta que você olhe para dentro de si. Estas palavras são perigosas, tanto para a Igreja Católica como para a igreja Evangélica.

Bem, quem sabe qualquer dia desses "eu seja tocada", encontre a minha igreja, o meu Deus com D maiúsculo, chego aqui contando pra vocês? O homem é dono do sim e do não. Eu posso dizer sim hoje àquilo que eu disse não ontem e vice-versa. Beijos em todos os meus 4 leitores.

Pequenas notas autobiográficas




Angélica é uma menina, uma garota ainda. Ela é muito sensível, chora por bobagens, pois desde cedo sofre na vida. A vida nunca foi lá muito fácil para Angélica, que demorou um longo tempo para entender o significado da palavra normal. O sonho dela era ter uma rotina, saber como seria o dia de amanhã.

Edgard, o Eugênio, é um menino, um garoto ainda. Ele é muito sensível, chora mas chora escondido. Um dia eu o vi chorar. Mas quase ninguém nunca viu. Cedo, muito cedo na vida ele teve um sofrimento, depois outro e a vida nunca foi lá muito fácil para Edgard Eugênio que até hoje procura ser seu pai e sua mãe, ao mesmo tempo. Ele também procura ser o pai e a mãe de muitas pessoas que ele vai conhecendo.
*
Um dia Edgard e Angélica se conheceram, se apaixonaram e se juntaram.
Juntaram dentro da mesma casa seus medos, suas carências, suas lágrimas, seus sonhos mais valiosos e fizeram um filho, a vida seria grandiosa.
Mas depois foram perdendo a gargalhada, o riso, e a vontade de estar junto. A rede parou de balançar.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Gosto do pensamento da Betty Milan, suas opiniões, uma escritora psicanalista que formou-se em Medicina pela FMUSP e em Psicanálise na França com Jacques Lacan.
Autora de ensaios, romances, crônicas e peças de teatro, tem um blog na veja on line(www.vejaonline.abril.com.br), espécie moderna de consultório sentimental, e sua lucidez pra dar conselhos é o máximo:

"Nós freqüentemente sofremos por não querer saber o que acontece e o não querer saber é inclusive um conceito psicanalítico.
Você pode tentar se analisar sozinho, lendo um livro, ou buscando a ajuda de um terapeuta. O importante é enveredar pelo caminho que traz luz, o caminho de quem deseja saber. De quem não quer persistir na paixão da ignorância, a mais negativa das paixões humanas.
"A pior paixão é a da ignorância. Diz respeito ao modo como lidamos com o nosso inconsciente, ao quão atentos ou ao quão surdos somos para ele. Quão recalcadas as suas manifestações ou quão bem acolhidas. "

"O amor só escraviza quem precisa ser escravo."

"Amar faz bem. Quem ama bebe na fonte da juventude...O amor é uma aposta na liberdade - te amar exatamente como você é."

Ela também ensina você a SER QUEM VOCÊ QUISER, a nâo falar de tristezas, a nao dar existencias a elas atraves de palavras, a ser leve. Diz que o amor é uma consequência do humor e que o amor implica a delicadeza. Isso não é lindo? e não é óbvio? Devemos repetir o óbvio, para que ele não passe despercebido.

E a amizade?

"um amigo nao exige do outro que ele esteja disponivel. Quer o outro no seu caminho. o amigo é desprendido. "


Bem, te isso e muito mais no seu Blog e no seu site :
http://www2.uol.com.br/bettymilan/

Io che amo solo te


Io che amo solo te (Sergio Endrigo - 1963)
*
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C'è gente che ha avuto mille cose,
tutto il bene tutto il male del mondo
Io ho avuto solo te,
io non ti perderò, non ti lascerò
Per cercare nuove avventure
(Per cercare nuove ilusione)

C'è gente che ama mille cose,
e si perde per le strade del mondo
Io che amo solo te,
io mi fermerò e ti regalerò
Quel che resta della mia gioventù

domingo, 16 de dezembro de 2007

DELÍCIA!! Fim de semana também teve lasanha, cinema em casa com pipoca e família. É tudo que eu preciso.

No sábado a gente assistiu O Último Rei da Escócia - Idi Amin Dada. Excelente, o filme mistura fatos reais com a história ficcional do médico particular do ditador. O genial ator Forest Whitaker faz um ditador perfeito. Um ditador sanguinário, megalomaníaco que terminou virando motivo de chacota para a comunidade internacional. Eleito em 1971, 300 mil pessoas morreram em seu governo. Foi deposto e exilado em 1979 e morreu em 2003. É um filme histórico, bem elaborado, que recomendo, como forma de saber mais sobre a África, Uganda no caso, principalmente pra quem não viveu a época, anos 70, com as notícias e tal.
E hoje, domingo, assistimos a uma produção nacional recente, uma comédia, Saneamento Básico, O Filme.
O elenco é de primeira: Fernanda Torres, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Bruno Garcia, Camila Pitanga, Paulo José e tal. Não é um filmaço, mas é legal, leve, diversão, entretenimento, as paisagens são lindas, o filme se passa em Bento Gonçalves e a trilha sonora é toda de lindas músicas italianas. Bonitinho. Bonzinho. Tudo inho. mas Gostei.
E agora, delícia das delícias, naquele que é o melhor lugar do mundo - meu quarto, minha cama - tem um livro a me esperar, tou indo agora, beijos xau. Ah, Marguerite Duras, O Vice-Consul.

Domingo é dia de PIZZA !!

Essa moça tá diferente...tava com sono? mas falou em pizza é a primeira da fila.... Os rapazes já começaram os trabalhos. Encolhe a asa!
Os cavalheiros nem conversam, nem respiram, se acabam...

Propaganda do estabelecimento aqui pertinho de casa....
Será que o garçom esqueceu-se de mim? Cara de Gato Fedorento.....

Princesinha mais alegrinha barriguinha cheia, pode trazer a conta que Papito paga.

Mas os marmanjos ainda não terminaram! Afe....






sábado, 15 de dezembro de 2007

"Não sou pessimista, prefiro pensar que um dia a vida será mais justa" - Oscar Niemeyer - 100 anos


Dentro de Adélia


Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa.
Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo
de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra que, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai
Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros,
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôôi fia.
.
.
.
Hoje estou velha como quero ficar.
Sem nenhuma estridência.
Dei os desejos todos por memória
e rasa xícara de chá.
.
.
.
Velhice
é um modo de sentir frio que me assalta
e uma certa acidez.
O modo de um cachorro enrodilhar-se
quando a casa se apaga e as pessoas se deitam.
Divido o dia em três partes:
a primeira pra olhar retratos,
a segunda pra olhar espelhos,
a última e maior delas, pra chorar.
Eu, que fui loura e lírica,
não estou pictural.
Peço a Deus,
em socorro de minha fraqueza,
abrevie esses dias e me conceda um rosto
de velha mãe cansada, de avó boa,
não me importo. Aspiro mesmo
com impaciência e dor.
Porque sempre há quem diga
no meio da minha alegria:
'põe o agasalho'
'tens coragem?'
'por que não vais de óculos?'
Mesmo rosa sequíssima e seu perfume de pó,
quero o que desse modo é doce,
o que de mim diga: assim é.
Pra eu parar de temer e posar pra um retrato,
ganhar uma poesia em pergaminho
.
.
.
.
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
.
.
.

O livro ainda é o mesmo: Poesia Reunida, coletânea de livros de Adélia Prado. Todos aqui são de O modo poético. Daí os temas parecidos, ligados entre si. E o modo feminino e simples de ver a vida. Sinto-me agora dentro desse mundo. O mundo de Adélia. Triste, alegre, realista, mas sobretudo triste. Já disse nesse blog, é a dor a matéria prima que inspira os grandes poetas. É a dor.
Neste mesmo livro Adélia tem poemas para a cor roxa, para a amarela e a laranja. Um colorido que tentei reproduzir aqui.
A 1ª poesia é Poema esquisito, pg 21.
A 2ª é Trégua, pg 30.
E a 3ª é Páscoa, pg 29.
E o último é Exausto, pg 27.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

"As outras meninas bailavam, eu estacava querendo e só de querer vivi."

Não tem mar, nem transtorno político,
nem desgraça ecológica
que me afaste de Viriato.
Vinte invernos não bastaram
pra esmaecer sua imagem.
Manhã, noite, meio-dia,
como um diamante,
meu amor se perfaz, indestrutível.
Eu suspiro por ele.
Casar, ter filhos,
foi tudo só um disfarce, recreio,
um modo humano de me dar repouso.
Dias há em que meu desejo é vingar-me,
proferir impropérios: maldito, maldito.
Mas é a mim que maldigo,
pois vive dentro de mim
e talvez seja Deus fazendo pantomimas.
Quero ver Viriato
e com o mesmo forte desejo
quero adorar, prostrar-me,
cantar com alta voz Panis Angelicus.
Desde a juventude canto.
Desde a juventude desejo e desejo
a presença que para sempre me cale.
As outras meninas bailavam,
eu estacava querendo
e só de querer vivi.
[...]

Os diamantes dão indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
.
.
.
O 1º poema é O Sacrifício, pág. 357 e o 2º é Pranto para comover Jonathan, pág 356. O livro é Poesia Reunida de Adélia Prado. Editora Siciliano. Com todo o respeito de uma fã incondicional, onde Adélia colocou Jonathan eu coloquei Viriato. Por considerar a causa nobre.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Maysa - Ne me quitte pas - a melhor interpretação de todas, passando a perna inclusive em Nina Simone (que é o máximo)

http://br.youtube.com/watch?v=lIrEewDVEhQ&feature=related

Não me deixe
Devemos esquecer tudo
pode ser esquecido
Que já tenha passado
Esquecer os tempos dos mal-entendidos
E os tempos perdidos
Tentando saber como
Esquecer as horas que as vezes mataram
Com sopros de porque coração de felicidade
Eu vou te oferecer pérolas de chuva
Que vêm dos países onde não chove
Eu vou cavar a terra até a minha morte
Para cobrir teu corpo de ouro e luzes
Eu farei uma terra onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde tu serás a rainha
Não me deixe, não me deixe, não me deixe
Eu inventarei palavras sem sentido que tu compreenderás
Eu te falarei sobre os amantes
Que viram duplamente
Seus corações incendiarem-se
Eu te contarei a história deste rei
Morto por não poder te reencontrar
Não me deixe, não me deixe, não me deixe
Nós frequentemente vemos
Renascer o fogo, do vulcão antigo
Que pensamos estar velho demais
Nos é mostrado em terras que foram queimadas
Nascendo mais trigo do que no melhor abril
E quando vem a noite com um céu flamenjante
O vermelho e o negro não se casam
Não me deixe, não me deixe , não me deixe
Eu não vou mais chorar, eu não vou mais falar
Eu me esconderei lá para te comtemplar
A dançar e a sorrir
E para te ouvir cantar e então rir
Deixa que eu me torne
A sombra da tua sombra,
a sombra da tua mão
A sombra do teu cachorro
Não me deixe, não me deixe, não me deixe

No you tube tem a versão traduzida mas a harmonia não está no tempo certo, por isso optei por esta cópia e eu mesma coloquei a tradução que é linda. No you tube, ainda, entre os comentários, tem um fofo onde alguém diz assim: " Para essa música não basta saber fluentemente o francês, é preciso ter interpretação dramática, coisa que só Maysa tinha." Outro diz: " Já ouvi franceses cantando essa música, mas nenhum supera Maysa na interpretação." E um outro: "força, emoção, comovente. Interpretaçào visceral." Tudo isso é Maysa. É demais!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Acabo de ler a biografia de D.PedroII de José Murilo de Carvalho


"No retrato apaixonado traçado pelo historiador, o homem que governou o Brasil por meio século(superado em tempo de governo apenas pela Rainha Vitória) com "os valores de um republicano, com a minúcia de um burocrata e com a paixão de um patriota" deixou um exemplo de senso de dever, tolerância, liberalidade e quase inacreditável respeito pela liberdade de imprensa.
De todas essas características, a mais surpreendente é a fé republicana. Como poderia defender um sistema de governo que implicava sua própria extinção? Em defesa da tese republicana, pesam escritos do próprio Pedro II. "Nasci para consagrar-me às letras e às ciências, e, a ocupar posição política, preferiria a de presidente da República ou ministro à de imperador", escreveu ele numa espécie de auto-retrato feito em 1861 no diário habitualmente dedicado a registrar fatos mais rotineiros. Outros trechos reveladores:
• "Jurei a Constituição; mas ainda que não a jurasse seria ela para mim uma segunda religião".
• "A nossa principal necessidade política é a liberdade de eleição; sem esta e a de imprensa não há sistema constitucional na realidade, e o ministério que transgride ou consente na transgressão desse princípio é o maior inimigo do estado e da monarquia".
• "Leio constantemente todos os periódicos da corte e das províncias. (...) A tribuna e a imprensa são os melhores informantes do monarca".
Também se atribui a Pedro ter dito: "Eu sou republicano. Todos o sabem. Se fosse egoísta, proclamava a República para ter as glórias de Washington". Está aí uma das explicações para a sua "estranha simpatia" republicana, segundo José Murilo de Carvalho: na visão dele, a monarquia era necessária como uma "fase de preparação" do país para um futuro mais evoluído.
O imperador tinha opiniões honrosas sobre praticamente todos os assuntos importantes. Era a favor de eleições livres e ardoroso defensor da educação como instrumento democrático."
fonte: Revista Veja edição 2034 - 14/11/2007
Particularmente gosto de todos os livros de José Murilo. Esta biografia está impecável, muito bem documentada, as fontes as melhores. E... me apaixonei ainda mais por D. Pedro II. Um monarca respeitado no mundo todo, que nos enche de orgulho. José Murilo escreve muito bem, seus livros não são indicados apenas para historiadores, muito pelo contrário, prosa agradável, lê-se rápido e deixa saudades. Recomendo também de José Murilo: Bestializados.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Gregório de Matos Guerra: um soneto para mim!


Anjo no nome, Angélica na cara

Anjo no nome, Angélica na cara
Isso é ser flor, e Anjo juntamente
Ser Angélica flor, e Anjo florente
Em quem, se não em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus, o não idolatrara?

Se como Anjo sois dos meus altares
Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda
Posto que os Anjos nunca dão pesares
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda
.
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.
.
Adoro o Boca do Inferno, tanto quanto ou mais que Ana Miranda.
Espelho de um país que se formava, Gregório (1623-1696) extraiu poesia de uma língua européia recém-transplantada aos trópicos. Sua poesia pode ser erótica, pornográfica, ou lírica e religiosa, mas ficou bem conhecido por sátiras com violentos ataques pessoais a desafetos. O poeta maldito. Expressão do nosso barroco. Era de família baiana abastada, advogado formado em Coimbra, boêmio, mulherengo, irreverente e doidinho por mulatas.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Escola Augusto Severo - A minha revolução













"Pedagogia do oprimido é, na minha opinião, a obra-prima de Paulo Freire. Nesses últimos quinze anos tenho trabalhado ativamente em educação popular, e aquela tem sido a minha principal obra de referência. Ela provocou, em mim e em muitos outros educadores, uma verdadeira revolução copernicana em matéria educativa. Fez-nos ver que não há culturas diferentes. E que o oprimido, quando educando, pode não saber exatamente o que sabe o educador e, em geral, porta valores que a educação burguesa, bancária, degenera naqueles que, como eu, foram formados por ela. Daí a importância de, no trabalho popular, o educador deixar-se educar pelos educandos. Deve haver uma interação permanente entre educadores e educandos, de tal modo que a própria função possa se inverter em constante alternância.
Na teoria, estamos todos de acordo. Mas é também verdade que, malgrado esta obra mestra de Paulo Freire, muitos educadores que enchem a boca de propósitos libertadores continuam a praticar a pedagogia opressora, num direcionamento nem sempre sutil, como se os conceitos cartesianos possuíssem a chave da História. Daía importância, atualíssima, desta obra de Paulo Freire, este sim um aprendiz obstinado neste vasto território da educação, onde tantos se arvoram em mestres (Frei Betto, teólogo e escritor).