sexta-feira, 27 de março de 2009

Manoel de Barros - Auto-retrato

Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.

Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,

aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar

entre pedras e lagartos.

Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto

meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou

abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que fui salvo.

Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.

Os bois me recriam.

Agora eu sou tão ocaso!

Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço coisas inúteis.

No meu morrer tem uma dor de árvore.


Manoel de Barros (1916) se firma cada vez mais como um de nossos maiores e melhores poetas, uma constante redescoberta das palavras:

Maior que o infinito é o incolor.
Eu sou meu estandarte pessoal.
Preciso do desperdício das palavras para conter-me.
O meu vazio é cheio de inerências.
Sou muito comum com pedras....

Manoel de Barros - Livro Sobre Nada - Reencontro com a POESIA

Aspirinas e cheiro de maresia, isso tem todo dia aqui em casa.

Mas confessso que tá faltando poesia . Livro Sobre Nada. Arrocha o nó:
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Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
A inércia é o meu ato principal.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Por pudor sou impuro.
Não preciso do fim para chegar.
De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.
Do lugar onde estou já fui embora.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Reformando a casa mil vezes - Ulisses Tavares

Faço minhas as palavras do poeta Ulisses:

É tão certo como campainha tocando na hora do banho.
Bastou eu ter um problema pessoal começo a ter mil idéias para reformar a minha casa.
Levei um pé na bunda, fiquei com dor de cotovelo? Lá vou eu elaborando a planta de uma nova cozinha, chamando os pedreiros e quebrando tudo.
Projeto longamente acalentado não deu certo? Fácil. Só preciso planejar um novo puxadinho, uma nova laje, expandir a sala.
O livro novo que lancei não vendeu nem estourou como imaginava?
Nada que uma mexida cheia de cimento, ferro e tijolos não resolva.
Como tenho uma vida imensa de frustrações e construções, perdi a conta de quantas casas já construí e quantas reformas já fiz em todas.
Cada louco com sua mania. E um louco criativo tem mais manias que a média, claro.
Isso me ocupa, me preenche temporariamente e me nutre da tola certeza de estar resolvendo minha vida de maneira, literalmente, concreta.
Claro que nunca deu certo. Só consegui foi fugir de mim mesmo.
Mas é uma solução existencial tapa-buraco emocional.
Não faz muito gastei dois anos construindo uma casa no meio do mato. A imaginei, no final, cheia de gente, amigos, amor, quentinha. Nada disso. Acabei com um trambolho em que até eu mesmo tinha dificuldade de chegar, por ser tão longe. No começo, olhava a porteira e pensava: que bom estar aqui sem ninguém. No final, a porteira nunca aberta sinalizava que eu me isolara a toa. Justo eu, que gosto tanto, e preciso, estar rodeado de gente.
Demorei para aprender que minha Casa sou eu mesmo, meu corpo, minha alma, meus anseios e desejos. Varanda nova do mundo.
Agora, quero construir e reformar meu Eu.
Mas daí a coisa emperra. São tantas mudanças que nem sei por onde começar a planta básica.
Difícil ser arquiteto e construtor de si mesmo.

Ulisses Tavares é uma casa assombrada por fantasmas, passados e futuros. Para se defender, reforma o que pode, sem alicerce que aguente. Coisas de poeta.
Caros Amigos - janeiro de 2009
www.ulissestavares.com.br

segunda-feira, 16 de março de 2009

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA - QUE FILME

CLARO QUE O LIVRO É MELHOR.
Gabriel Garcia Marquez pensou durante 3 anos antes de liberar a obra.
MAS A ATUAÇÃO COMO SEMPRE IMPECÁVEL - MESMO EM INGLÊS - DA FERNANDA MONTENEGRO, A TRILHA SONORA CAPRICHADA (SHAKIRA!), A COLÔMBIA NO SÉCULO XIX, FOTOGRAFIA E FIGURINO, ENFIM. E A HISTÓRIA DE AMOR? EU GOSTEI. DEMAIS.

terça-feira, 3 de março de 2009

Travessuras da menina má - é saudade o que sinto

"[.....] Bem, todo mundo tem seus períodos de neurastenia, em que prefere ser antipático para deixar bem claro seu desgosto com o mundo. [...]"




Saudade da menina má. Saudade do coisinha à toa.