terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Gregório de Matos Guerra: um soneto para mim!


Anjo no nome, Angélica na cara

Anjo no nome, Angélica na cara
Isso é ser flor, e Anjo juntamente
Ser Angélica flor, e Anjo florente
Em quem, se não em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus, o não idolatrara?

Se como Anjo sois dos meus altares
Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda
Posto que os Anjos nunca dão pesares
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda
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Adoro o Boca do Inferno, tanto quanto ou mais que Ana Miranda.
Espelho de um país que se formava, Gregório (1623-1696) extraiu poesia de uma língua européia recém-transplantada aos trópicos. Sua poesia pode ser erótica, pornográfica, ou lírica e religiosa, mas ficou bem conhecido por sátiras com violentos ataques pessoais a desafetos. O poeta maldito. Expressão do nosso barroco. Era de família baiana abastada, advogado formado em Coimbra, boêmio, mulherengo, irreverente e doidinho por mulatas.

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