sábado, 24 de novembro de 2007

Antigos problemas desta nem tão nova ordem social....


Acho que foi a partir dos 12 ou 13 anos que minha filha passou a "sofrer". Quantas vezes encontrei minha filha sofrendo horrores porque queria uma nova calça jeans. Ela movia mundos e fundos, só pensava naquilo, só tinha aquele assunto, até conseguir. Na hora da aquisição era uma felicidade tamanha. E inconsistente. Alguns minutos e o sofrimento voltava, desta vez na forma de uma bolsa da moda. Essa insatisfação eterna que à mim me parecia patológica, nos fazia sofrer, à ambas, mesmo que por motivos diversos. E despertou em mim a fúria, ou a determinação de caminhar em sentido oposto. Argumentar dando o exemplo é o poder. Passei a agir em sentido contrário. As propagandas de televisão ou revista quase não tinham poder sobre a minha pessoa.

A globalização (pense numa palavra batida) é na verdade uma globocolonização, na medida em que, uma determinada cultura e uma determinada concepção de vida, são impostas ao mundo e não várias concepções e culturas.

Você vai na china, entra numa loja de cd's e dá de cara com um poster do Michael Jackson. Tudo bem. Nada contra os chineses gostarem de Michael Jackson mas gostaria que nas lojas de Nova Iorque houvessem posters de um chinês....

Em Manaus, vi moças que faziam "cooper"(vixe ainda se usa essa palavra? claro que não né?) corriam na orla do Rio Negro com meias de lã (polainas) até o joelho (calor de 40 graus) porque havia uma novela da rede globo idem.

Podemos questionar se o fato de adolescentes e jovens terem essa necessidade de "pertencer" à um grupo, ou de não se sentir feio ou diferente, seria uma atenuante. Ok. Sim Seria. Pode ser da idade, pode ser uma fase. Pode passar. Mas pode ficar pior.

Essa sensação de eterna insatisfação que acompanha a maioria das pessoas de nossa era, adolescentes, jovens, adultos e corôas, advém do fato de que, nosso projeto de sociedade está hoje ancorado em bens finitos.

Essa é a nossa frustração: os bens finitos são finitos, mas o desejo é infinito.

Quando centrado em bens finitos o desejo não encontra satisfação.

Os bens da dignidade, ética, liberdade, paz, amor são infinitos mas não têm valor de mercado, não podem ser comprados. Não geram lucros exorbitantes, nem enriquecem magnatas.

Todo o projeto neoliberal do capitalismo é baseado no ter e não no ser. (projeto este que, provado está, não se sustenta, devido ao colossal abismo social que vai criando. Sua injustíssima e indecente distribuição de renda: pequenas ilhas de prosperidade cercada de fome e miséria por todos os lados).

Corremos o risco de perda de sentido e entramos num vazio.

A vaca está feliz em sua plenitude bovina e o cachorro na sua plenitude canina precisa apenas de comidinha e carinho para ser feliz.

Somos o único animal que não pode deixar de sonhar. O sonho completa o que de incompleto existe em nós.

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