segunda-feira, 25 de abril de 2011

Domenico De Masi


Domenico De Masi , filosofo italiano nos ensina em seu livro Ócio Criativo:

Se os nosso bisavós padeciam do tédio dos dias sempre iguais , nós padecemos de vertigem por instantes sempre diversos, acelerados e excessivos, nos quais se orientam somente aqueles que, dotados de sabedoria, sabem viver com estilo, submetendo e sincronizando os ritmos frenéticos do mundo aos próprios biorritmos.

Quem não possui essa sabedoria, quem não sabe usufruir do luxo da pausa, deve entender que a felicidade e a alegria se encontram ao alcance das mãos e só o fato de tentarmos ir buscá-la, e quem quer que a busque já está de alguma forma no caminho dessa sabedoria.

Estamos desabituados de uma tal maneira a fazer as coisas com calma, que assim que dispomos de uma hora livre tratamos de enchê-la de tantos compromissos e tarefas que o tempo acaba sempre faltando!

Tempo e espaço, duas características mais importantes das nossas vidas, reduziram-se de tal forma que, dispor deles, isto é , ter tempo e espaço passou a ser um luxo.

A pressa tecnológica esconde-se em algo mais profundo: o medo da morte. Esse sentimento de achar que, por maior que seja o número de experiências que se consiga acumular, existirão sempre alegrias outras, belas, que não teremos tempo de experimentar ..

Daqui nasce a luta contra o tempo, para tentar roubar-lhe mais chances e ocasiões do que aquelas que o destino gostaria de nos conceder. Daqui brotam as infinitas artimanhas para conseguir economizar tempo, aviões , telefones , escutar rádio enquanto dirige, falar ao celular enquanto dirige, secretaria eletrônica etc. (diminuindo talvez a “qualidade” das experiências em prol da quantidade).

Neste ponto, é o nosso cérebro que corre o risco de entrar em parafuso. Depois de ter desencadeado a corrida contra o tempo, não consegue manter o passo e tenta se “virar em dois".

Enquanto faz uma coisa já está pensando em outra

.”A vida é – dizia Oscar Wilde – o que acontece enquanto estamos pensando em outra coisa “.

Dentro de nós , o impulso à pressa se alterna com o impulso à calma

.Mas o ócio é uma arte que temos que aprender ..

Danusa Leão - que mulher!



DANUZA LEÃO (O ESTADO DE SÃO PAULO)

Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente
bem cedo começa acreditar, ainda por cima, se achar culpada por ser
burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de
vitórias e felicidades.
Uma das mentiras: que nós, mulheres, podemos conciliar
perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e
amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.
É muito simples: não podemos !!
Não podemos; quando você se dedica de corpo e alma a seu
filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite,
quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega,para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante.
Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar
uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e
passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?
Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer
as mulheres e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuará tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.
Ah, quanta mentira!
Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não à que
faz de conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo.
No começo, ela até
tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre
maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.
Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade.
Mas Ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se
percebe a guerra já está perdida.
Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os
charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas:tempo e dinheiro.
Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37
Radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista
tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação,
alongamento,comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas,
depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.
É muito interessante a imagem da mulher que depois do
expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente
branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que
está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour. Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus
banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.

Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco? para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só
minuto seja perdido.
Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa,
têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia
na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o
rendimento escolar está baixo.
E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm
um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem
viver (segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não sepode viver: ar, água e pão).
Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria.