domingo, 28 de fevereiro de 2010

BOX GUARARAPES



O LOBISOMEN.
BENÍCIO DEL TORO E ANTHONY HOPKINS JÁ VALEM O INGRESSO.
A HISTORINHA É BOAZINHA. AS TRANSFORMAÇÕES SÃO INTERESSANTES.
NÃO SOU MUITO DE CARNIFICINAS E O QUE EU MAIS GOSTEI NO FILME
FOI A AMBIENTAÇÃO NA INGLATERRA VITORIANA, COMO NO CLÁSSICO
ORIGINAL DE 1941.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

As Palavras Andantes - Eduardo Galeano


Com Gravuras de J.Borges. Aí Bezerros cidade amada!


"Ninguém conseguirá matar aquele tempo, ninguém vai conseguir jamais: nem nós. Digo: enquanto você existir, onde quer que esteja, ou enquanto eu existir.

"Diz o almanaque que aquele tempo, aquele pequeno tempo, já não existe; mas nesta noite meu corpo nu está transpirando você."
"Desde que a viu, a vê. E não vê mais nada."

" E assim foi até que não foi mais."

" Houve uma vez que foi a primeira vez, e então o bicho humano ergueu-se e suas quatro patas se tranformaram em dois braços e duas pernas, e graças às pernas os braços ficaram livres e puderam fazer casa melhor que a copa da árvore ou a caverna do caminho. E tendo-se erguido, a mulher e o homem descobriram que é possível fazer amor cara a cara e boca a boca, e conheceram a alegria de olhar nos olhos durante o abraço de seus braços e o nó de suas pernas."


" [...]
- Mas não foi bem assim.
- E que é que diz que não foi?
- Deus.
- Ah.
- O Grão Cão.
- E você viu ele?
- Quem vê fica cego. Eu senti. Estava de costas e senti aquele sagrado todo. [...]"


"A fome come o medo. O medo do silêncio atordoa as ruas.
O medo ameaça:
Se você amar, vai pegar aids.
Se fumar, vai ter câncer.
Se respirar, vai se contaminar.
Se beber, vai ter acidentes.
Se comer, vai ter colesterol.
Se falar, vai perder o emprego.
Se caminhar, vai ter violência.
Se pensar, vai ter angústia.
Se duvidar, vai ter loucura.
Se sentir, vai ter solidão."



"A Igreja diz: o corpo é uma culpa.
A ciência diz: o corpo é uma máquina.
A publicidade diz: o corpo é um negócio.
O corpo diz: Eu sou uma festa."


" A mãe abnegada exerce a ditadura da servidão.
O amigo solícito exerce a ditadura do favor.
A caridade exerce a ditadura da dívida.
A liberdade de mercado permite que você aceite os preços
que lhe são impostos.
A liberdade de opinião permite que você escute aqueles que
opinam em seu nome.
A liberdade de eleição permite que você escolha o molho
com o qual será devorado."

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

La Vie En Close

O Que Passou, Passou?

Antigamente, se morria.
1907, digamos, aquilo sim
é que era morrer.
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo,
de doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor,
como se amar morte fosse.
Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro e pronto,
lá se ia o nosso defunto
para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era um tipo de festa,
uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
Descansou. Partiu. Deus o tenha.
Sempre alguém tinha uma frase
que deixava aquilo mais ou menos.
Tinha coisas que matavam na certa.
Pepino com leite, vento encanado,
praga de velha e amor mal-curado.
Tinha coisas que tem que morrer,
tinha coisas que tem que matar.
a honra, a terra e o sangue
mandou muita gente praquele lugar.
Que mais podia um velho fazer,
nos idos de 1916,
a não ser pegar pneumonia,
deixar tudo para os filhos
e virar fotografia?
Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Mas ninguém tem culpa.
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.
Almoçou e fez a barba,
tomou banho e foi no vento.
Não tem o que reclamar.
Agora, vamos ao testamento.
Hoje, a morte está difícil.
Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
Agora, a morte tem limites.
E, em caso de necessidade,
a ciência da eternidade,
inventou a criônica.
Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica.

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Lápide 1
epitáfio para o corpo

Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito,
são suas obras completas.

Lápide 2
epitáfio para a alma

Aqui jaz um artista
mestre em desastres
viver
com a intensidade da arte
levou-o ao infarte
deus tenha pena
dos seus disfarces.

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Insular

mil milhas de treva
cercada de mágua
por todos os lados

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esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem

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a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome

ISSO TUDO É LEMINSKI

Distraídos Venceremos

Volta em Aberto

Ambígua volta
em torno da ambígua ida,
quantas ambiguidades
se pode cometer na vida?
Quem parte leva um jeito
de quem traz a alma torta.
Quem bate mais na porta?
Quem parte ou quem torna?

Leminski

o amor, esse sufoco
agora há pouco era muito,
agora, apenas um sopro

ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
e socos

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podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano

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eu ontem tive a impressão
que deus quis falar comigo
não lhe dei ouvidos

quem sou eu para falar com deus?
ele que cuide dos seus assuntos
eu cuido dos meus

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Parada Cardíaca

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure
vem de dentro

Vem da zona escura
donde vem o que sinto
sinto muito
sentir é muito lento

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Razão de Ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras de papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

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Incenso Fosse Música

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

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abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno


TUDO ISSO É LEMINSKI

Caprichos e Relaxos II

não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase

Leminski

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Falando sobre mim: exercício de escrita



1. Quando eu tinha 15 anos achava que ainda ia crescer 15 cm. Isso nunca aconteceu.
2. Quando eu tinha 20 anos minha filha Tainá nasceu e eu nasci também nessa hora.
3. Eu e Tainá crescemos juntas como irmãs. Hoje ela é minha mãe.
4. Quando eu tinha 30 anos meu filho Edgard nasceu e foi como se eu fosse mãe pela primeira vez.
5. Cada filho meu tem um pai que corresponde a um ex-marido se é que você me entende.
6. Acredito no par. A vida só tem graça em dupla.
7. Nunca fui ao cinema sozinha.
8. Tive uma crise de choro quando conheci Veneza porque eu queria que meu pai estivesse ali comigo.
9. Quero morrer em Veneza.
10. Mas antes preciso passar alguns meses na costa amalfitana.
11. Amo os dias de chuva a ponto de ficar eufórica.
12. Fiz 5 anos de análise e ainda não recebi alta.
13. Desconfio que meu diagnóstico já mudou de depressiva para alcoolista passando por síndrome de pânico.
14. Há dias em que estou absurdamente feliz para no dia seguinte achar que a vida é uma espelunca de quinta categoria. Talvez o transtorno bipolar deva ser cogitado.
15. Ouro Preto não. Mas adoraria morar uns tempos em Tiradentes.
16. Frederico é o grande amor da minha vida. Espero que ele nunca vire meu ex-marido.
17. Adoro blues principalmente Steve RayVaughan, mas não curto aquele tipo de jazz que passa uma hora viajando na mesma maionese. Miles Davis é o máximo.
18. Tenho uma incrível facilidade para dizer não. De maneira indolor inclusive.
20. Ler é o meu maior vício.
21. Depois vem vinho tinto e prosecco. Só curto drogas lícitas.
22. Se eu tivesse certeza que o mundo iria acabar em 2012, passaria a tomar champagne no café da manhã.
23. Eu não nasci para trabalho. Melhor: gostaria de ser paga para ler.
24. Queria ter o dom de escrever. Como Saramago ou Mario Vargas Llosa.
25. Ganho muito tempo dormindo e consigo ser sedentária sem peso na consciência.