sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

"As outras meninas bailavam, eu estacava querendo e só de querer vivi."

Não tem mar, nem transtorno político,
nem desgraça ecológica
que me afaste de Viriato.
Vinte invernos não bastaram
pra esmaecer sua imagem.
Manhã, noite, meio-dia,
como um diamante,
meu amor se perfaz, indestrutível.
Eu suspiro por ele.
Casar, ter filhos,
foi tudo só um disfarce, recreio,
um modo humano de me dar repouso.
Dias há em que meu desejo é vingar-me,
proferir impropérios: maldito, maldito.
Mas é a mim que maldigo,
pois vive dentro de mim
e talvez seja Deus fazendo pantomimas.
Quero ver Viriato
e com o mesmo forte desejo
quero adorar, prostrar-me,
cantar com alta voz Panis Angelicus.
Desde a juventude canto.
Desde a juventude desejo e desejo
a presença que para sempre me cale.
As outras meninas bailavam,
eu estacava querendo
e só de querer vivi.
[...]

Os diamantes dão indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
.
.
.
O 1º poema é O Sacrifício, pág. 357 e o 2º é Pranto para comover Jonathan, pág 356. O livro é Poesia Reunida de Adélia Prado. Editora Siciliano. Com todo o respeito de uma fã incondicional, onde Adélia colocou Jonathan eu coloquei Viriato. Por considerar a causa nobre.

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