domingo, 25 de abril de 2010

Chã Grande é assim

Amigos queridos, papo interessante, risada gostosa, horta orgânica, vinho, terra, fogo, água e ar puro.
Esse painel de azulejos acima da pia do gazebo foi pintado, nos anos 70, por Dona Célia mãe de Celina. Presente para a sua casa da Barra no Rio de Janeiro. Celina negociou a casa que foi demolida por uma construtora. Não sem antes retirar, com todo cuidado, um por um dos azulejos do painel agora montado para nosso deleite!




quarta-feira, 21 de abril de 2010

Uma tarde em 76


O ano era 1976.

Na vitrola (na verdade já era uma pick up sansui que meu pai trouxe da zona franca de manaus) tocava Johnny Mathis - Misty.

Minha mãe tinha todos os long plays dele. Além de Românticos de Cuba. Os do meu pai eram de Nelson Gonçalves. Não posso ouvir nada disso sem me lembrar imediatamente dos meus pais.

Meus pais bebendo e fumando com os amigos e jogando "buraco". Duro. Sem coringa. Sem canastra suja. Só limpa. Canastra real. Uma delas valia 200 pontos. De As à As valia 500.
Voltando para 1976. Eu tinha um amor proibido. Minha mãe adorava o cara.
Porque pensava que era só amigo. Ele era mais velho ( 8 anos mais velho do que eu, não tinha estudado, era artista, negro e tinha uma noiva! Caramba, isso é que era um amor proibido naquela época!) e tocava violão muito bem, tocava pra minha mãe. Ele vinha das noitadas direto lá pra casa tomar café da manhã e minha mãe achava isso o máximo. Meu pai dizia "Helga abre o olho, não existe amizade entre homem e mulher". E a gente se beijava escondido. E a cena que ficou, a cena que eu fecho os olhos e enxergo quando toca Misty é a seguinte:


Final de tarde, sala do apartamento de Boa Viagem, Johnny Mathis na vitrola - Misty.

Minha mãe fumando e bebendo com sua calça cigarrete, unhas vermelhas compridas e os cabelos muito altos de laquê. Meu amigo me tira para dançar. Dançamos toda a música e é como se o mundo acabasse ali, é como se aquela música tivesse durado toda uma eternidade. E durou. Durou até hoje.

Inútil rasgar fotografias: ninguém pode apagar as fotos e os filmes da nossa cabeça. Mas essa frase é de um outro amigo meu. ...E a trilha sonora era Tribalistas.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Dona Doida







Nunca consegui falar sobre minha mãe aqui nesse blog. Posts e posts sobre Raul, nada de Helga. Não é só aqui. Trata-se de um bloqueio.

Agora faz um ano que ela morreu (na verdade um pouco mais) e sua presença é para mim mais concreta do que quando ela estava viva se bulindo.

Fiz 5 anos de psicanálise e até hoje não tenho certeza se minha mãe era uma mulher muito à frente de seu tempo ou se ela era doida mesmo.

No primeiro caso ela estaria mais para Leila Diniz do que para Simone de Beauvoir.

Mas ela tinha plena convicção de que as mulheres tinham exatamente, rigorosamente os mesmos direitos que os homens, contanto que não precisassem trabalhar.

Não que ela fosse inculta ou iletrada. Devorava livros, cursou universidade federal.

Bebia e fumava desde os 15 anos. Fazia penteados altos de laquê duas vezes por semana e era capaz de dormir sentada para não desmanchá-los. Fumava com suas longas unhas vermelhas que nos causavam pavor por causa dos beliscões.

Mordaz, sua ironia corrosiva destruía auto-estimas por onde passava, mas foi responsável pela sua solidão.

Um dia, para meu espanto, ela me disse que a sensação de morrer devia ser deliciosa igual a de um orgasmo. Fiquei estarrecida. Ela, que nasceu em 1936, não apenas conhecia a sensação do orgasmo como tinha tanta intimidade com eles que considerava o assunto trivial.

Helga aprendeu a dirigir em uma Rural 1964. Meu pai não foi seu primeiro namorado e ela não casou virgem.

Filha de um alemão de Dusseldorf com uma gaúcha de Porto Alegre, sempre foi uma mulher cosmopolita. Tinha mania de levar os filhos a psicólogos e dentistas. Ninguém fazia isso, principalmente em Piracicaba, interior de São Paulo, para onde, horrorizada, se mudou por causa do trabalho de meu pai. Aos 3 anos eu frequentava regularmente o dentista. Em 1970 levou minha irmã ao psicólogo porque ela se recusou a ir com amigos ao cinema. Considerou depressiva aquela atitude. Quanto à mim fiz , minha primeira consulta ao psicólogo aos 12, 1974, plena ditadura militar. O motivo? rebeldia. Respostas que eu tinha na ponta da língua.

Mulher de difícil convivência, um a um fomos saindo de casa.

O primeiro foi meu pai, eu tinha 15 anos e eles 23 anos de casados.

Helga mudou pra pior. Além disso, aos 42 anos, além de desquitada, arrumou um namorado de 22 anos. Minha irmã tinha 24. Minha irmã foi embora de casa. Eu virei a bola da vez. Então fui morar com meu pai.

A minha relação com dona Helga foi sempre tão difícil e dolorosa, tema de intermináveis sessões de terapia, enfim. E foi na terapia que, aos 40 anos, descobri que meu pai tinha defeitos! Isso foi uma revelação. Eu não via defeitos em meu pai. Também descobri qualidades em minha mãe!

E hoje, depois que ela morreu, (quer ser bom? morra.) hoje vejo outras qualidades nela, e vejo o quanto somos parecidas, fato que sempre me horrorizou admitir. E que agora entendo tudo e até sinto orgulho. Helga. Só agora, meio século depois consegui te compreender. Acho que eu te amaria.

domingo, 18 de abril de 2010

O QUE ANDO LENDO?


HISTÓRIA SOCIAL DO JAZZ - ERIC HOBSBAWN - amantes do jazz, historiadores ou aspirantes à ambos irão gostar.
LEITE DERRAMADO - CHICO BUARQUE - qualquer pessoa que goste minimamente de ler vai gostar. Leitura fácil, fluente rápida, gostosa.

domingo, 11 de abril de 2010

Augusto dos Anjos


Vandalismo


Meu coração tem catedrais imensas,

Templos de priscas e longínquas datas,

Onde um nume de amor, em serenatas,

Canta a aleluia virginal das crenças.


Na ogiva fúlgida e nas colunatas

Vertem lustrais irradiações intensas

Cintilações de lâmpadas suspensas

E as ametistas e os florões e as pratas.


Como os velhos Templários medievais

Entrei um dia nessas catedrais

E nesses templos claros e risonhos ...


E erguendo os gládios e brandindo as hastas,

No desespero dos iconoclastas

Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

sábado, 10 de abril de 2010

Cinema da Fundação - Maratona

Colin Firth e Juliane Morre em A single Man

Sábado adorável. Fui sozinha e teria sido a primeira vez na minha vida que eu iria ao cinema sozinha. Já estava orgulhosa de mim mesma. Olhei a programação, tomei banho, me troquei: prontíssima às 15. Sempre desisto nessa hora. A caminho do elevador tive a idéia de ligar para uma amiga que poderia estar de bobeira e mora perto da Fundarj. Ela disse que ia. Não fiz fé. Nessa hora eu já ia de todo jeito. Coloquei na bolsa meu xale quentinho de Machu Picchu.

16:40 - Sentada no meu lugar predileto aguardando:

O Processo de Joana D'Arc de Robert Bresson - 1962 - França - 65 minutos - preto e branco. Sessão grátis na Fundação.

Baseado inteiramente em fontes históricas primárias, ou seja, nos arquivos do processo, o filme mostra todos os passos do martírio da heroína francesa, do encarceramento à fogueira. Como historiadora me deliciei, mas minha amiga - que para minha surpresa apareceu - achou detalhista meio maçante. Discordo. O filme é fantastic.
Saímos para tomar um delicioso café Castigliani enquanto aguardávamos

18:30 - A Single Man - Tom Ford EUA 2009 (Direito de amar, horrendo nome que ganhou na tradução brasileira).
O professor universitário de literatura - brilhante atuação impecável de Colin Firth - perde inesperadamente o seu companheiro após 16 anos de convivência. O filme narra a dor e a extrema solidão do protagonista ao enfrentar o dia a dia, agora sem sentido, e recordando os instantes de felicidade vividos com seu grande amor. A dor é dilacerante. O ponto forte do filme é mesmo o elenco. Juliane Moore como a melhor amiga que dá em cima do amigo gay só para não ficar sozinha está impecável e linda. Sua frase "Eu tenho muitos amigos mas nenhum deles precisa de mim" resume o personagem e a vida de muita gente que eu conheço. Filme simplesmente IMPERDÍVEL
Saímos para tomar outro café desta vez com croissants. E pra relaxar o divertidíssimo

20:30 - Soul Kitchen - 2009 Alemanha - Fatih Akin
Uma comédia Alemã, já pensou? Um feel good movie com um diretor alemão de ascendência turca. Pense numa trilha sonora dançante. O protagonista é o hilário grego Zinos que tem um restaurante falido tipo PF sujinho, na periferia de Hamburgo, uma desgraça. Resolve então desistir do tão amado quanto endividado estabelecimento para ir atrás de sua namorada em Xangai. A partir daí tudo parece conspirar para o Soul Kitchen decolar e virar o restaurante da moda. Muito bom.
Fomos para a casa lindas leves e soltas. Para mim pelo menos, sinônimo de sabadão perfeito.

quarta-feira, 7 de abril de 2010