sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Raul


Raul é mesmo um cara incrível. Ele sabe das coisas.
Ele nasceu no mesmo dia que eu, 7 de maio.
Deve ser por isso que a gente ficou muito amigo.
No dia do meu aniversário era o dele também.
Era massa. Ele dizia que eu era o presente. Eu adorava isso de ser um presente.
Um dia, Raul me ensinou a gostar de chuva. Era uma tarde de verão em Piracicaba, interior de São Paulo. Eu tinha 5 anos. De repente uma chuva torrencial, de pingos gordos e o convite: vamos tomar banho de chuva? No minuto seguinte estávamos - eu de biquine, ele de calção - a correr e a dar gargalhadas na chuva. Até hoje quando chove eu fico feliz. A chuva passou a me transmitir uma euforia cheia de felicidade.
Como quando corríamos na praia de Santos enquanto ele repetia: "carreirinha do nenê".
Quando eu tinha 6 anos Raul me levava ao dentista. E me ensinava a escovar os dentes de uma maneira que ninguém ainda conhecia. Todos os dias à noite ele colocava pasta na minha escova. Eu chegava no banheiro e lá estava a minha escova com a pastinha em cima. Raul nunca teve isso. Mas ele fazia tudo isso pra mim. E isso a gente nunca esquece.
Nada havia, naqueles tempos, sobre os pais, homens, ajudarem na criação dos filhos.
Naquela época o pai era apenas provedor. Trabalhava duro e trazia conforto para casa. A mãe, como não trabalhava, ficava encarregada de todos esses detalhes.
E ninguém levava crianças ao dentista em 1968, já que os dentes eram de leite e iam mesmo cair. Passei a ter pesadelos perdendo dentes e admiro quem tem seus 'teclados' brancos e brilhantes como os meus.
Ele era assinante da revista Veja. Em 2008 serão 40 anos ininterruptos de assinatura desta revista. Merecia um prêmio. Ao menos um ano de borla.
Aos 7 anos Raul me pagava um dinheiro para que eu ficasse calada na hora do 'Jornal Nacionil'.
Sim. Em 1969 já tinha esse jornal. Primeiro programa a ser transmitido simultaneamente para todo o país. Cid Moreira.
Raul me ensinou a nadar com 8 anos. E a boiar. Ah! e a dançar bolero.
Aos 9 ganhei dele meu primeiro livro: Os Três Mosqueteiros. O primeiro de uma série infinita de livros que Raul sempre me deu. Nunca mais parei de ler. O Retrato de Dorian Gray, A mulher de 30, Maria Antonieta de Stephan Zweig, O Crime do Padre Amaro, O Cortiço quando ainda não constava na lista do vestibular....Ele também sempre me dava relógios. Ele dizia que não conhecia ninguém que quebrasse tantos relógios como eu. E ria. Seiko. A maioria era seiko. O último foi um Mido quando eu fiz 36. E ele 72. Exatamente o dobro.
Aos 10 anos balançávamos os dois na mesma rede em Recife. E tomávamos água de côco.
Aos 12 Raul colocava 2 colheres de aveia em um suco de laranja. Um não, dois. Um pra mim outro pra ele. Aveia. Ninguém ligava para fibras em 1974. Raul ligava. Eu sentada à grande mesa oval da cozinha, tonta de sono, seis horas da manhã. Eu que nem queria suco de laranja...Se não fosse Raul acho que eu tomaria coca-cola no café da manhã. Acabei me tornando naturalista. Aprendi a gostar de Yoga com 30 anos quando, morando em outra cidade, livros do Professor Hermógenes começaram a chegar pelo correio. Auto Perfeição com Hatha Yoga e Yoga para Nervosos. Me apaixonei. Adivinhe quem enviou? Livros que ele lia e gostava e tinha vontade que eu lesse também e descobrisse um mundo de coisas boas.
Raul também me ensinou os perigos do açúcar branco e da carne vermelha. Nesse dia o churrasco morreu pra mim. A picanha perdeu o sabor e a soja passou a fazer parte do meu dia a dia. Um formador de opinião esse Raul. Não foi a toa que fez tanto sucesso em vendas.
Depois que um médico lhe disse: - Raul, seu colesterol é alto, tens que caminhar, Raul passou a caminhar 4 km por dia . Já se vão quase 30 anos e o cara só descansa aos domingos. Pioneiro nos check ups anuais, na dieta frugal para a longevidade, no trio vinho tinto alho e azeite, no chá verde, na valorização da saúde enfim.
Aprendi tanta coisa com esse cara, impossível narrar em post. O cara é demais. Ele faz cinema.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que biografia linda a do Raul