sábado, 18 de agosto de 2007

África: até quando? LEIA O LIVRO ASSISTA AO FILME


Gosto de assistir a filmes sobre a áfrica. Continente rico, lindo, perdido, berço da humanidade. Eva era negra. Só que a vida é extremamente cruel por lá. Nossos irmãos, nossos ancestrais. É uma maneira de saber o que se passou, o que ainda se passa. A mídia parece fingir que o continente não existe.

A saída: livros e filmes. Diamantes de Sangue, filme denúncia (como Babel e Hotel Ruanda) por exemplo. No país africano Serra Leoa, na década de 90, o filme acompanha a história de Danny Archer (Leonardo DiCaprio), um mercenário sul-africano , e o pescador Solomon Vandy (excelente Djimon Hounsou). Apesar de terem nascido no mesmo continente, têm histórias completamente diferentes, mas seus destinos são unidos por conta da busca por um raro diamante cor-de-rosa. Com a ajuda de uma jornalista norte-americana, eles terminam por denunciar o esquema do garimpo de diamantes encontrados com o sangue das guerrilhas. Ao final um alerta: nunca compre diamantes das empresas ligadas a esta máfia.

Corte para a Festa Literária Internacional de Parati (Flip), que espera a chegada do escritor Ishmael Beah(FOTO), 26 anos, ex-soldado da guerrilha em Serra Leoa. No Brasil para lançar seu primeiro livro, Muito Longe de Casa, Ishmael está à vontade. Na semana passada, ele visitou o Vidigal, jogou capoeira com integrantes do Grupo Nós do Morro e já conversou, com certa dificuldade, com Paulo Lins, autor do livro e roteirista Cidade de Deus. "Eu falava em inglês, ele em português, isso pelo telefone", explicou ressaltando que já havia lido o livro e assistido ao filme.
O encontro dos dois acontecerá na Flip, no próximo domingo, às 15h, na mesa "Sobre meninos e Lobos". Em comum, histórias vibrantes sobre os ambientes tomado de brutalidade e desespero em que viveram, o brasileiro na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e Ishmael, numa Serra Leoa devastada pela guerra.
"Não escrevi este livro para mim, escrevi para mudar a percepção dos que não sabem nada sobre a guerra", (a guerra dos diamantes de sangue:assista ao filme para entender) ressaltou. No começo dos anos 90, com 13 anos, ele tinha nas mãos um fuzil AK-47. Seus pais morreram durante a guerra.
Sem moradia e comida, ele foi parar nas fileiras do exército de Serra Leoa. Lutou contra grupos armados rebeldes e ajudou a trucidar a população civil. Usava anfetaminas, cocaína e maconha distribuídos pelas forças armadas para encorajar as crianças a combater o cansaço enquanto semeavam o terror e massacravam vilarejos. Os primeiros assassinatos traumatizaram Beah, matar tornou-se um gesto cotidiano.
Em 1996, sob pressão da Unicef, o exército desmobilizou alguns meninos soldados. Beah passou oito meses em um centro de reabilitação, submeteu-se a um tratamento de desintoxicação e recebeu apoio psicológico.
Em 1998, adotado pela escritora americana Laura Simms, que conhecera em 1996, durante um colóquio sobre meninos soldados organizado pela ONU. Foi viver em Nova York, Estados Unidos. Terminou os estudos secundários e se aprofundou em Ciência Política no Oberlin College, em Ohio.
"As pessoas não têm idéia da nossa existência, não sabem de nós. Nunca soube que tinha habilidade para escrever, quis usar a educação que recebi para mostrar o que acontecia no meu país", afirmou.
"Na guerra, você perde seus sentimentos, leva tempo para recuperá-los. Escrevi o livro para dizer: você não deve ter esta experiência", acrescentou.
Seu relato está sendo lançado no Brasil pela Ediouro. A Unicef estima que 300 mil crianças participem de conflitos armados atualmente. Beah é hoje porta-voz dessas crianças. "Escrever esse livro foi difícil, pois fui obrigado a reviver minhas experiências de guerra. Mas não foi um preço alto para mostrar o que acontece às crianças em vários lugares do mundo", disse.
Beah já prepara seu segundo livro, um romance. "Quando sair desta roda viva terei mais tempo para escrever. Quero escrever mais por que ainda tenho muito para dizer, muito para contar, quero voltar às histórias que ouvi, ao mundo em que vivi. Serra Leoa é um dos melhores lugares da África. Sinto falta da vida simples. Existem pessoas que têm muito, mas são infelizes. Sou uma pessoa esperançosa", afirmou.

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