quinta-feira, 24 de julho de 2008

Le Monde: Gil, 30 anos de Montreux

O cantor, ministro e agora hacker Gilberto Gil toca no festival de Montreaux, na Suiça


Francis Marmande


Quando o Brasil desembarca em Montreux, o lago Léman entra em ebulição.
Gilberto Gil, que se apresentou em 12 de julho, comemora trinta anos de participações no festival. É verdade que desde 1978, a música brasileira sempre foi a "menina dos olhos" do Montreux Jazz Festival. Em Porto Alegre, Gilberto Gil, cantor, guitarrista, ministro da cultura do Brasil, 64 anos, definiu a si mesmo como "um ministro, um músico, mas, sobretudo, um hacker". A um jornalista do diário suíço "Le Matin" ("A Manhã"), que se mostrou um tanto surpreso com esta declaração, ele explicou, por telefone: "Sim, os hackers são muito importantes. Eles são responsáveis pelas novas tecnologias, pelas suas aplicações. Os hackers são os cientistas da Internet. O sistema precisa deles para o seu desenvolvimento. Mesmo que eu não seja um hacker tecnicamente falando, eu o sou politicamente".
No que se refere às aplicações, basta procurá-las na sua performance, sempre elétrica, eclética, enérgica, levemente repetitiva, que inclui uma celebração eletrônica das novas tecnologias. E também conferir seu novo álbum, "Banda Larga Cordel". No capítulo das intenções, o ministro hacker sabe que é como um pendrive morto. É necessário gravar o ministro em concerto! É preciso filmá-lo, transformá-lo em arquivo e enviá-lo por telefone, reciclá-lo; para que todos o compartilhem! Então, se for assim, responde o jornalista do "A Manhã", a música deveria ser gratuita? Não, responde o ministro, à noite: "Esta não é apenas uma questão política, é uma tendência técnica natural".
(Vale lembrar que os ingressos em Montreux custam em média cerca de 100 euros - cerca de R$ 250).
O ministro deu o seu recital em Deauville (Normandia), em 17 de julho, no quadro do festival Swing in Deauville. Não teria ele se transformado numa espécie de "subprefeito passeando na campanha", em ritmo de fusão de bossa-nova com rock, reciclado como hacker digital? Um pouco, mas é não só isso. Por sorte, existem os ritmos. . . Isso o salva do rock mecânico, do qual a sua música quis se impregnar. Como faz Gilberto Gil com os dossiês, os orçamentos, as reuniões, as comissões? Será que ele delega? Em todo caso, ele prossegue sua turnê, imperturbável. O que, para uma estrela, nada de tem de espantoso. Mas ele é o ministro da Cultura de Lula, desde a ascensão à presidência do líder do Partido dos Trabalhadores (PT), em 2002. Deve ser porque ele se considera mais como um embaixador do que como um tomador de decisões. Em todo o caso, o seu brilho que irradia no palco varre todas as dúvidas e ganha todas as apostas. Quando o Brasil desembarca em Montreux, o público, de verde e amarelo, parece ser brasileiro e conhece as músicas. O Brazil Boat (Navio Brasil) faz o seu cruzeiro de três horas no lago. O palco é tomado como se fosse um assalto por Mart'nalia, Elba Ramalho, Milton Nascimento e o Trio Jobim. Então, um felino trajando um boné de couro preto apodera-se de um violão. Ele também vem para cá desde 1978. O seu nome é João Bosco e ele entoa na hora dos bis um blues épico e dilacerante: "Corsário". No meio dessa folia, o ministro dá pulos de alegria. Quase sempre, nós franceses estamos provavelmente errados quando arriscamos certas comparações, quando imaginamos, por exemplo, Christine Albanel, a nossa ministra da cultura e da comunicação, vestida de couro preto, entoando em coro "Marcia Baila", o hino roqueiro dos Rita Mitsouko. Contudo, é mais ou menos isso que está acontecendo diante dos nossos olhos neste palco, só que com ginga brasileira.
Tradução: Jean-Yves de Neufville

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