segunda-feira, 16 de junho de 2008

Parou Tudo ou Como dar uma guinada depois dos 40

Achei essa foto um barato. Queria uma gravura que transmitisse o âmago do post. Caramba, adorei essa hehehe....

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Quando eu fiz o vestibular pela primeira vez tinha 17 anos. Poucas pessoas podem tomar uma decisão dessas com essa idade. O que você vai ser quando crescer? Eu passei muito tempo sem saber responder à essa pergunta.
Me graduei e nunca trabalhei na área da minha primeira graduação.

Quando dei por mim estava trabalhando numa multinacional e ganhando bem mais que meus colegas de faculdade. Foram 18 anos. Os 7 primeiros foram ótimos e desafiadores. Eu realmente gostava daquilo que fazia. Num lance de audácia fui promovida mudei de área e...me dei mal: passei a detestar tudo. Acomodada, com medo de mudar, permaneci mais penosos 8 anos!
Foi quando tomei a decisao. Aquilo não dava mais pra mim. Sem estímulo algum, decepcionada com meu trabalho, sabia que ia acabar sendo demitida. Mas, quantas contas para pagar! Como dar uma guinada aos 40 anos?
Quantas pessoas a me desencorajar, mesmo quando eu dizia me sentir tão infeliz...

Queria mudar. Precisava mudar. Estava adoencendo. Tive labirintite com 35 anos, e depois? mais uma infinidade de "ites". Até que tomei coragem. Outro vestibular com 38 anos. Dessa vez era o que eu queria. Que delícia. Amava cada aula, curtia estudar. Pós graduação. Estava quase tudo pronto para a mudança. Doce ilusão...
Mudar era muito mais complicado do que pensei. Minha nossa!

Como dizia o inventor Thomas Edison, mudanças e boas oportunidades vêm vestidas com macacão de operário. Fazer mudança dá trabalho. Olhar nossas dificuldades de frente, assumí-las, planejar ações para ultrapassá-las e agir com determinação. Ufa..
Dá uma preguiça... a força da inércia. Sair da zona de conforto. Mesmo que seja um conforto sufocante, que a gente sinta que está jogando a vida fora, resistimos em mudar. Quanto tempo fiquei ali, enrolando, adiando, fazendo de conta que a situação não existia, me distraindo com “coisas mais importantes”.
O budismo diz que o apego é a principal causa do nosso sofrimento. E é.
O apego é uma cola. E, quanto mais cola, mais dói para sair.
O outro motivo é resistência ao desconhecido. Medo. Essa é a palavra. Medo de perder o controle da situação. Se eu mudar e ficar pior? Mas e se eu não mudar e "for mudada"? Não seria pior?
Durante a fase mais, digamos assim, aguda da minha guinada pessoal, tive que dar tratos à bola. Pensar e repensar questões difíceis que me tiravam o sono: qual o meu objetivo na vida? minha razão de existir? O que foi mesmo que eu vim fazer neste mundo? O que exatamente quero mudar na minha vida? E o quê preciso modificar em mim mesma para conseguir isso?

E a questão principal: O que me faz realmente feliz? Decididamente não é a ambição de ser rica nem muito menos a área de vendas de empresa alguma.
Ó céus, ó vida, ó dor! Ó dúvida cruel....Não quero mudar para permanecer na mesma, trocar 6 por meia dúzia, como aquelas pessoas que trocam de carro, de casa, de cidade só para não trocar as bases do relacionamento com o cônjuge, recusando-se a admitir que o relacionamento é que é o verdadeiro problema.
Por isso que o foco é importante. Senão a gente fica naquela dos desejos generalizantes tipo véspera de ano novo. "Eu gostaria de emagrecer" é bem diferente de "Eu quero emagrecer 4 quilos até março, 2 quilos por mês, já me matriculei na academia e comecei o regime".
Aprendi em terapia que a nossa vida é como uma cadeira onde cada perna significa: vida pessoal(social, familiar), vida profissional, vida cultural e vida espiritual. Se uma das pernas estiver quebrada até que a cadeira ainda continua em pé. Mas com duas....Para mudar precisamos desse equilíbrio. Pode haver uma ênfase maior numa das áreas, mas o ideal é que seja só um pouco maior e não muito maior. E o equilíbrio é dinâmico, está sempre em mutação. É bom refletir sempre sobre ele.

É preciso saber reconhecer a importância de nossas necessidades espirituais e emocionais antes de traçar planos materiais concretos.
Mas como reunir forças para mudar quando estamos conscientes de que nossa decisão implicará em renúncia, esforço e sacrifício?
Isso porque nem sempre as mudanças que vão nos fazer mais felizes serão as que vão receber aplausos da sociedade ou da família.
Algumas pessoas não compreendiam os meus motivos, chamavam-me de louca: "Quantas pessoas gostariam de estar no seu lugar e ter o emprego que você está "jogando fora". A continuar na mesma e eu é que seria "jogada fora" pois estava no lugar errado. A razão morava dentro de mim e isso me deu forças. Não conseguia mais trabalhar. Eu que sempre pensei primeiro nos filhos, na casa, desta vez coloquei-me em primeiro lugar junto com minha saúde mental. E me considerava pronta para arcar com as consequências.
Claro que existe um dilema interno. Temos muitas vozes dentro de nós: uma parte vai querer cumprir as determinações, enquanto outras preferem dormir mais um pouquinho, comer um brigadeiro de sobremesa, adiar o pagamento de uma conta para se presentear com alguma bobagem considerada essencial. Conscientes dessa "luta" fica um pouco mais fácil resistir aos impulsos que surgem a todo momento.
Hoje estou feliz com o rumo dos acontecimentos, na reta final, quase na linha de chegada. A idade é apenas um número e logo após o mestrado virá o doutorado. Decidi nunca mais parar de estudar. Ler é a minha praia. A docência, a minha esteira (ainda se usa esteira na praia? ok toalha, canga, chaise long, como queira). O caminho foi duro, é duro, cheio de percalços, só que isso é assim pra todo mundo e nos momentos mais difíceis pude contar com a ajuda dos verdadeiros amigos. Tenho muitos. Como é bom tê-los.
E olhe que eu nem sabia, mas hoje já existem, imagine, livros, consultores e até cursos para ajudar as pessoas a empreender a grande guinada!

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