quarta-feira, 25 de julho de 2007

A grande dor das coisas que passaram

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.
*
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
*
Errei todo o discurso dos meus anos;
Dei causa a que a fortuna castigasse
As minhas mais fundadas esperanças.
*
De amor não vi se não breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças!
*
Camões, incrível – escreveu assim mesmo como citei. Num português tão brasileiro, linguagem coloquial, temática simples.
Trata-se daquilo que o poeta Hélio Pellegrino chamou de "a difícil arte de escrever fácil".
Como o texto de Rubem braga. Tecidas sem pompa ou grandiloqüência, as crônicas de Rubem Braga são feitas de palavras simples, ­ não por acaso, ele achava que um dos versos mais belos da língua portuguesa é este decassílabo, sem qualquer enfeite, de Luís de Camões. Dizia ele:
"Isso me lembra um dos maiores versos de Camões , todo ele também com as palavras mais corriqueiras de nossa língua:"A grande dor das coisas que passaram". Talvez o que mais me impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia."
Eis a provável razão da popularidade da obra de Rubem Braga, toda ela composta de volumes de crônicas sucessivamente esgotados.
Da mesma forma, ser sintético é muito mais difícil e demorado do que ser prolixo.
Aliás, parafraseando Oscar Wilde, peço desculpas por ter sido tão prolixa. Se tivesse tido mais tempo teria sido mais sintética.
Beijos

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