Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.
*
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
*
Errei todo o discurso dos meus anos;
Dei causa a que a fortuna castigasse
As minhas mais fundadas esperanças.
*
De amor não vi se não breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças!
*
Camões, incrível – escreveu assim mesmo como citei. Num português tão brasileiro, linguagem coloquial, temática simples.
Trata-se daquilo que o poeta Hélio Pellegrino chamou de "a difícil arte de escrever fácil".
Como o texto de Rubem braga. Tecidas sem pompa ou grandiloqüência, as crônicas de Rubem Braga são feitas de palavras simples, não por acaso, ele achava que um dos versos mais belos da língua portuguesa é este decassílabo, sem qualquer enfeite, de Luís de Camões. Dizia ele:
"Isso me lembra um dos maiores versos de Camões , todo ele também com as palavras mais corriqueiras de nossa língua:"A grande dor das coisas que passaram". Talvez o que mais me impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia."
Eis a provável razão da popularidade da obra de Rubem Braga, toda ela composta de volumes de crônicas sucessivamente esgotados.
Da mesma forma, ser sintético é muito mais difícil e demorado do que ser prolixo.
Aliás, parafraseando Oscar Wilde, peço desculpas por ter sido tão prolixa. Se tivesse tido mais tempo teria sido mais sintética.
Beijos
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