quarta-feira, 21 de abril de 2010

Uma tarde em 76


O ano era 1976.

Na vitrola (na verdade já era uma pick up sansui que meu pai trouxe da zona franca de manaus) tocava Johnny Mathis - Misty.

Minha mãe tinha todos os long plays dele. Além de Românticos de Cuba. Os do meu pai eram de Nelson Gonçalves. Não posso ouvir nada disso sem me lembrar imediatamente dos meus pais.

Meus pais bebendo e fumando com os amigos e jogando "buraco". Duro. Sem coringa. Sem canastra suja. Só limpa. Canastra real. Uma delas valia 200 pontos. De As à As valia 500.
Voltando para 1976. Eu tinha um amor proibido. Minha mãe adorava o cara.
Porque pensava que era só amigo. Ele era mais velho ( 8 anos mais velho do que eu, não tinha estudado, era artista, negro e tinha uma noiva! Caramba, isso é que era um amor proibido naquela época!) e tocava violão muito bem, tocava pra minha mãe. Ele vinha das noitadas direto lá pra casa tomar café da manhã e minha mãe achava isso o máximo. Meu pai dizia "Helga abre o olho, não existe amizade entre homem e mulher". E a gente se beijava escondido. E a cena que ficou, a cena que eu fecho os olhos e enxergo quando toca Misty é a seguinte:


Final de tarde, sala do apartamento de Boa Viagem, Johnny Mathis na vitrola - Misty.

Minha mãe fumando e bebendo com sua calça cigarrete, unhas vermelhas compridas e os cabelos muito altos de laquê. Meu amigo me tira para dançar. Dançamos toda a música e é como se o mundo acabasse ali, é como se aquela música tivesse durado toda uma eternidade. E durou. Durou até hoje.

Inútil rasgar fotografias: ninguém pode apagar as fotos e os filmes da nossa cabeça. Mas essa frase é de um outro amigo meu. ...E a trilha sonora era Tribalistas.

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