domingo, 17 de agosto de 2008

Ferreira Gullar

Jabuti
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que uma questão
de vida ou morte -
será arte?
GULLAR, Ferreira. Na vertigem do dia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1980.

Nenhum comentário: