segunda-feira, 25 de abril de 2011

Danusa Leão - que mulher!



DANUZA LEÃO (O ESTADO DE SÃO PAULO)

Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente
bem cedo começa acreditar, ainda por cima, se achar culpada por ser
burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de
vitórias e felicidades.
Uma das mentiras: que nós, mulheres, podemos conciliar
perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e
amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.
É muito simples: não podemos !!
Não podemos; quando você se dedica de corpo e alma a seu
filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite,
quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega,para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante.
Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar
uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e
passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?
Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer
as mulheres e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuará tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.
Ah, quanta mentira!
Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não à que
faz de conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo.
No começo, ela até
tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre
maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.
Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade.
Mas Ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se
percebe a guerra já está perdida.
Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os
charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas:tempo e dinheiro.
Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37
Radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista
tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação,
alongamento,comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas,
depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.
É muito interessante a imagem da mulher que depois do
expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente
branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que
está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour. Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus
banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.

Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco? para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só
minuto seja perdido.
Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa,
têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia
na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o
rendimento escolar está baixo.
E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm
um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem
viver (segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não sepode viver: ar, água e pão).
Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria.

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