quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Oh Brave new world !



Estou relendo Admirável Mundo Novo após 20 anos.
O livro é simplesmente fantástico.
Não me lembrava de muita coisa, claro.
Huxley escreveu o livro em 1931 e jamais poderia imaginar o quanto sua crítica à sociedade moderna seria cada vez mais atual durante todo esse tempo.

Estamos no ano 632 D.F. (depois de Ford)
Numa das passagens impressionantes do livro, o Sr. Selvagem pergunta à Sua Fordeza porque os livros de Shakespeare são proibidos. A resposta é impressionante:

- Ninguém entenderia Otelo.

- Mas, e se fosse algo novo com Otelo e que eles possam compreender?

- Se parecesse realmente com Otelo, ninguém poderia compreendê-lo, por mais novo que fosse. E, se fosse novo, não poderia de maneira alguma ser parecido com Otelo.

- Por que não?

- Porque o nosso mundo não é o mesmo mundo de Otelo. Não se pode fazer um calhambeque sem aço, e não se pode fazer uma tragédia sem instabilidade social. O mundo agora é estável. As pessoas são felizes, têm o que desejam, e nunca desejam o que não podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não tem medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; não têm esposas, nem filhos, nem amantes, por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem. E, se por acaso, alguma coisa andar mal, há o soma.

- Tudo isso me parece absolutamente horrível.

- Sem dúvida. A felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento. [...] E o fato de estar satisfeito nada tem da fascinação de uma boa luta contra a desgraça, ou de uma derrota total sob os golpes da paixão ou da dúvida. A felicidade nunca é grandiosa."

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